“Se estão vendo este vídeo é porque já se executou um abuso maior por parte do governo”, diz o novo líder da oposição venezuelana Leopoldo López em um vídeo caseiro gravado pouco antes de se entregar às autoridades venezuelanas. Ao longo dos oito minutos que dura a gravação que veio à tona na noite da terça-feira, em que aparece sentado ao lado de sua mulher, Lilian Tintori, o dirigente diz a seus seguidores que devem estar preparados para uma longa luta contra governo do presidente Nicolás Maduro.
Pareceu uma clara advertência e um chamado a acalmar essa parte da oposição que acha que o herdeiro do falecido Hugo Chávez está a um triz de cair. As expectativas que geraram as persistentes mobilizações em toda a Venezuela há quinze dias fomentaram toda classe de esperanças infundadas. López mandou uma mensagem cheia de vitalidade e pintou o panorama que virá nos próximos dias. É possível, disse, que não se possa difundir suas mensagens através dos meios de comunicação, que dobraram suas linhas editoriais aos interesses do Governo. “Não permitamos que por essa razão nos derrotem onde temos que ter nossa maior fortaleza: no coração e nas convicções”, acrescentou.
Estas palavras aparecem como um chamado a manter o protesto nas ruas e as vias fechadas. Os jovens universitários, alguns pacíficos e outros mais violentos, são a cara destas manifestações que mantêm a Venezuela em permanente conflito. Caracas cheira a fumaça e é difícil caminhar de um lado a outro. O transporte público funciona parcialmente porque a cada noite o lixo é atravessado no meio da calçada e incendiado para impedir a circulação. Nesta terça-feira manifestantes opositores foram além e atravessaram um veículo pesado na via expressa que liga o país de Leste a Oeste e interromperam o tráfico durante várias horas.
López mandou uma mensagem direta para eles e afirmou que um futuro diferente dependia de sua determinação. Não é o momento, explicou, de posições passivas. “A saída deste desastre ao que estamos submetidos está em tuas mãos. Vamos lutar, mantenhamos a força, não descansemos”, acrescentou como mensagem de despedida. Em nenhum momento fez um chamado concreto para derrubar o governo, mas talvez não faça falta. A ala da oposição que tomou a iniciativa –encabeçada também pela deputada María Corina Machado e o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma- não parece disposta a abandonar sua posição, embora estão conscientes de que daqui por diante o movimento precisa de uma condução política.
López passou a noite na prisão de Ramo Verde, um penitenciária para oficiais das Forças Armadas Nacional Bolivariana localizada nas periferias montanhosas de Caracas. Na manhã desta quarta-feira seria apresentado em tribunais para a primeira audiência. Imputam-lhe uma lista de delitos –homicídio intencional qualificado, terrorismo, lesões graves, incêndio de edifício público, entre outros- cujas penas máximas ultrapassam o topo de 30 anos estabelecido na legislação venezuelana.
Os arredores do Palácio de Justiça, no centro de Caracas, foram tomados por seus seguidores para apoiá-lo. A Guarda Nacional acompanhava a concentração. Bem perto dali estão presentes os temidos coletivos chavistas, grupos paramilitares que, depois da fachada de um aparente trabalho cultural e esportivo, administram a violência em seu setor e se desempenham como a força de choque civil do Governo. Em Valencia, estado Carabobo, no centro da Venezuela, a suposta ação de um destes grupos anárquicos causou feridas de bala em oito pessoas. Na terça-feira, junto a um numeroso grupo, tentavam ultrapassar os limites impostos pelas autoridades locais para protestar.
Génesis Carmona, Miss Turismo Carabobo 2013, foi uma das baleadas. Ontem ela morreu pelas complicações derivadas de um disparo no crânio. A imprensa local disse que um grupo de motoqueiros fez uma emboscada na concentração jogando pedras e disparando. A Guarda Nacional tinha se retirado para deixar o caminho livre a eles, denunciaram os manifestantes.
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