Por Khaled Yacoub Oweis e Mariam Karouny
GENEBRA/BEIRUTE, 10 Fev (Reuters) - A segunda rodada de negociações de paz sobre a Síria começou nesta segunda-feira já abalada, com o mediador internacional se reunindo separadamente com os dois lados do conflito, depois que violações a um cessar-fogo local e uma ofensiva islâmica prejudicaram o seu trabalho.
Antes das negociações, o mediador Lakhdar Brahimi disse aos representantes para que fossem priorizados nas discussões o fim dos combates e a formação de um governo transitório. Os representantes do governo afirmaram que o combate ao "terrorismo", expressão que eles usam para se referir à revolta em geral, deveria ser pactuado antes.
A segunda rodada do diálogo se dá depois das negociações do mês passado, as primeiras em quase três anos de guerra civil, quando não houve avanços concretos.
Brahimi tentou na época quebrar a desconfiança mútua focando numa trégua para a cidade de Homs, mas mesmo essa medida só foi acordada depois do fim da primeira rodada. No sábado, os agentes humanitários tiveram de enfrentar ataques quando eles retiravam civis da cidade.
Uma carta de Brahimi para os representantes dos dois lados no fim de semana dizia que a nova rodada tinha como objetivo tratar de temas como o fim da violência, a formação de um governo transitório e planos para instituições nacionais e reconciliação.
A oposição diz que um governo transitório deve excluir o presidente Bashar al-Assad. Os representantes do presidente afirmam que não irão discutir a saída do presidente.
A oposição declarou que entregou a Brahimi a sua proposta para um governo transitório e submeteu também testemunhos que mostravam que os militares sírios haviam disparado contra o comboio humanitário em Homs. O governo culpa os rebeldes.
A oposição também disse que houve um aumento do uso pelo governo das chamadas "bombas-barris", latões de óleo cheio de explosivos e fragmentos de metais, que são jogados de helicópteros. Foi dito que mais de 1.800 sírios foram mortos por essas bombas na semana passada, metade deles em áreas rebeldes de Aleppo.
"Não é aceitável que o regime envie a sua delegação às negociações de paz enquanto mata o seu próprio povo na Síria. Isso precisa parar", disse Louay al-Safi, porta-voz da oposição, à imprensa.
O mediador planeja continuar os encontros separados em Genebra nos próximos dias na esperança de melhorar o clima das negociações, programadas para durar uma semana.
A delegação do governo sírio cobrou que ele condene uma ofensiva islâmica neste domingo que teria matado 41 pessoas na cidade de Maan, na região central da Síria, disse uma fonte. A população local é composta principalmente por alauítas, seita de Assad.
"O fim da violência e o combate ao terrorismo é o primeiro passo que deve ser acordado para abrir caminho para o lançamento do processo político", disse a delegação do governo num documento visto pela Reuters, que, segundo uma fonte, foi entregue a Brahimi nesta segunda-feira.
Os combatentes islâmicos, que não estão representados nas negociações, tomaram uma vila na província central de Hama no domingo, parte de um esforço para cortar as rotas de abastecimento de Damasco para o norte do país.
O grupo de monitoramento Observatório Sírio de Direitos Humanos afirmou que os islâmicos mataram 25 pessoas na vila de Maan, a maioria deles de uma milícia pró-Assad.
O governo disse que os mortos eram principalmente mulheres e crianças e acusaram os combatentes de cometerem um massacre na véspera das negociações em Genebra.
A Rússia, principal aliada de Assad no Conselho de Segurança das Nações Unidas, reiterou a sua opinião de que a delegação da oposição não é representativa das forças rebeldes que lutam na Síria.
(Reportagem adicional de Dominic Evans, em Beirute, Oliver Holmes, Stephanie Nebehay e Tom Miles, em Genebra, John Irish, em Paris, e Steve Gutterman, em Moscou)
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