sábado, 8 de fevereiro de 2014

A infanta responde sobre os negócios da Aizoon: “Eu confiava no meu marido”


“95% das respostas da infanta estão sendo ‘não sei’, ‘não tenho conhecimento’, ‘eu confiava eu meu marido’”. A infanta Cristina, indiciada por lavagem de dinheiro e fraude fiscal, negou neste sábado com essas palavras ante o juiz José Castro todos os indícios de delito contra ela, segundo Manuel Delgado, advogado do grupo de acusação Frente Cívica, num recesso do interrogatório, após duas horas e meia de depoimento. Durante o depoimento, que Castro pretende prolongar por cinco horas, o juiz perguntou à filha mais nova do rei espanhol sobre os negócios de seu marido, Iñaki Urdangarin, e sobre seu conhecimento a respeito deles e do caso Nóos. “Ela está aparentemente tranquila, veio muito bem preparada”, mas o juiz está “perguntando com muita insistência e rigor, está buscando a verdade dentro das possibilidades que lhe permite o procurador”, acrescentou o advogado de acusação. “Das 400 perguntas, ela deve ter respondido umas 15.” Castro perguntou à infanta sobre os gastos concretos da Nóos e da Aizoon, já que a sociedade patrimonial dos duques assumiu o pagamento de uma assinatura (equivalente a 1.657 reais) da revista de moda La Redoute, de roupa esportiva de uma loja de Nova York comprada por telefone (505 reais), de caixas de vinho Baigorri (4.400 reais), de produtos como frutos do mar, bacalhau defumado e coxas de codorna em Barcelona (661 reais) e da série completa de livros de Harry Potter. Cristina confirmou ao juiz que recebeu do rei um empréstimo equivalente a quase 3.900.000 reais para a compra da propriedade de Pedralbes e agora o está devolvendo. Durante o segundo recesso, Manuel Delgado considerou que “a infanta não é apenas uma a mais no complô”. “Ela é a causa. Sem ela não haveria caso”, acrescentou. O grau de conhecimento do rei a respeito dos negócios de Urdungarin, a seu ver, “pairou no ambiente”. “Queremos que sejam aplicadas as mesmas leis tributárias a todos os espanhóis. É um absurdo que alguém diga que não sabe quem paga suas contas”, lamentou, ao apontar Urdangarin como “bode expiatório”. A infanta Cristina, que continua depondo em Palma de Mallorca, também assegurou que sabia que seu pai tinha dito a seu marido que devia afastar-se dos negócios da Nóos. Advogados presentes na sala afirmaram que a infanta negou todos os indícios contra ela, usou respostas evasivas e também negou conhecer os funcionários e a atividade da Aizoon, a empresa da qual ela era proprietária meio a meio com seu marido. A filha mais nova do rei chegou de carro ao tribunal, dez minutos antes da hora marcada, com seu advogado, Miquel Roca, e seus guarda-costas. Mas sem Urdangarin e sem qualquer membro da Casa Real para apoiá-la. Ela não fez declarações ao chegar, disse apenas um “bom dia” à imprensa, e também não está previsto que fale com os jornalistas ao sair. Ao contrário do que fez seu marido quando foi prestar depoimento como indiciado no mesmo processo, Cristina não quis renunciar ao privilégio que lhe concedeu, por segurança, o juiz, atendendo à recomendação da polícia de chegar de carro. Nos últimos dias, durante o intenso treinamento para o interrogatório, seus advogados insistiram para que ela chegasse serena. Mas, inevitavelmente, ao descer do carro a infanta escutou os gritos da manifestação contra a monarquia realizada numa rua próxima. Já dentro do tribunal, entregou seu celular (é proibido seu uso na sala de interrogatório) e passou pelo detector de metais, onde a infanta passou a ser apenas Cristina, uma cidadã a mais diante da justiça. O próprio juiz Castro já antecipava, em seu auto de indiciamento de 7 de janeiro, muitas das perguntas que está fazendo agora, como qual era a ligação entre um luxuoso jogo de louça de 5.645 reais e a atividade profissional da Aizoon, que foi quem pagou a conta, ou as aulas de salsa e merengue em domicílio. “É muito difícil que seus caprichos possam ser satisfatoriamente explicados”, opinava o juiz, acrescentando ser preciso, de qualquer forma, dar à infanta “a possibilidade de fazer isso”. Já era previsto que Cristina alegasse que era alheia às ações de seu marido e que nunca havia prestado atenção à Aizoon. “Ela está muito tranquila”, afirmou seu advogado, Jesús Silva, ao entrar no tribunal. “Esperemos que tudo saia bem”, acrescentou. Por sua vez, a advogada do grupo de acusação Mãos Limpas criticou a “inédita” postura do procurador e da Agência Tributária, que isentam Cristina de culpa.

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