quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Telefónica justifica a reorganização pelos cortes de gastos e simplificação


O conselho de administração do grupo Telefónica aprovou nesta quarta-feira uma reorganização total da companhia. Desaparece o setor Digital, bem como as filiais de Europa e América Latina e volta o modelo centralizado no qual as operadoras dos países mais fortes (Espanha, Brasil, Alemanha e Reino Unido) falarão diretamente com o diretor executivo, José María Álvarez-Pallete. A companhia justificou o novo organograma pela necessidade de poupar custos, aumentar os rendimentos e simplificar a estrutura para atender as necessidades dos clientes da cada um dos países. Com esta remodelagem, adiantada pelo EL PAÍS, Alierta dá uma volta na reorganização que fez em 2011, e que supôs a criação dessas três grandes áreas: Digital, Europa e América Latina. Os responsáveis pelas mesmas -Matthew Key, Eva Castillo e Santiago Fernández Valbuena- ficam na companhia mas sem nenhum poder executivo. Desaparecem as sedes de São Paulo e Londres e Telefónica da Espanha volta a ter uma presença independente. A ruptura é contundente na área Digital, cujo funcionamento autônomo não se traduziu em rentabilidades palpáveis. Criada há três anos com muito alvoroço, com sede em Londres e uma equipe de 2.500 funcionários, seu desenvolvimento envolveu muitos fracassos ao tentar rentabilizar startups, como a israelense Jajah, sua filial de chamadas de voz pela internet, que fechou em janeiro depois de pagar 145 milhões de euros por ela (465 milhões de reais). Também não conseguiu benefícios financeiros de Tuenti, uma rede social espanhola para adolescentes comprada por 80 milhões, e que teve que ser convertida em um operador móvel virtual, com grandes perdas. Seus projetos de I+D também não tiveram sucesso entre os usuários. Como TuMe, um serviço de mensagens instantâneas criado para competir com WhatsApp, que mal durou um ano. Para substituir essa divisão, Telefónica cria a figura do diretor geral Comercial-Digital, que sesrá Eduardo Navarro, um dos executivos que sai mais forte e que “terá como responsabilidade propiciar o crescimento dos rendimentos”, segundo indicou Telefónica em sua nota. Sobre os custos, a companhia reforça a figura do diretor geral de Recursos Globais, com o comando de Guillermo Ansaldo, para conseguir, sem contar as sinergias de Alemanha, economizar até 1,5 bilhões de euros (4,8 bilhões de reais) nos próximos anos. Ambas as direções-gerais deverão prestar contas diretamente ao diretor executivo, bem como as operadoras locais; Espanha, Brasil, Alemanha e Reino Unido, além da unidade América Latina, agora sem o Brasil. A ruptura é contundente na área Digital, cujo funcionamento autônomo não se traduziu em rentabilidades palpáveis O presidente da Telefónica, César Alierta, indicou que a companhia se centrará em quatro pilares. Os dois primeiros são o acréscimo dos rendimentos, mediante a ampliação da oferta comercial a novos serviços do mundo digital e a modernização das redes, com a intensificação nos lançamentos de fibra ótica e 4G. E os outros dois têm a ver com o mundo digital: eficiência, através da simplificação e a redução de custos e a manutenção da disciplina financeira, “com priorização do investimento em projetos de crescimento que gerem mais valor” e o “impulso de um novo posicionamento público que permita restabelecer o equilíbrio na corrente de valor do setor”. A companhia explicou que com o novo organograma “a oferta digital se incorpora no foco das políticas comerciais”. “O esquema dá mais visibilidade às operadoras locais, as aproximando do centro de decisão corporativo, simplifica o organograma global e reforça as áreas transversais para melhorar a flexibilidade e a agilidade nas decisões” precisou em uma nota respondida à Comissão Nacional do Mercado de Valores da Espanha. O novo modelo integra as atividades desenvolvidas até agora por Telefónica Digital, Telefónica Europa e Telefónica Latam no Centro Corporativo Global, simplificando assim a organização. No comando da Espanha continua Luis Miguel Gilpérez, Paulo César no Brasil, Eduardo Cari no resto da América Latina, Ronan Dunne no Reino Unido e o da Alemanha ainda será designado. Eva Castillo continua conselheira enquanto Key permanece no conselho da Telefónica O2 UK. Fernández Valbuena, também conselheiro da Telefónica, assume o cargo de diretor geral de Estratégia, antes ocupado por Navarro.

“Terrorismo? Na guerra deve-se matar o inimigo: legítima defesa”


Na gíria dos serviços de inteligência anglo-saxões um clean skin ou lily-white —dois termos que correspondem a uma personalidade aparentemente sem máculas– é uma pessoa que nunca se uniu a um grupo passível de ser vigiado, que vive e trabalha nas sociedades ocidentais sem chamar a atenção, que só na sua mente guarda as motivações e os planos para perpetrar um atentado. “O assassino solitário é o mais perigoso”, ressalta durante entrevista em Londres o escritor britânico Frederick Forsyth, um dos grandes do suspense contemporâneo, que em sua última novela The Kill List aborda esse perfil do terrorista de linha islâmica que “está fora do radar e é a grande dor de cabeça” para as forças de segurança. O título do livro alude a uma lista secreta reavaliada todas as semanas no Salão Oval da Casa Branca e que contém os nomes dos terroristas mais ameaçadores para os Estados Unidos, seus cidadãos e interesses. A missão de uma unidade que opera na sombra é identificá-los, localizá-los e destruí-los Obra selecionada Chacal (The day of the jackal, 1971). O dossiê Odessa (The Odessa file, 1972). Cães de guerra (The dogs of war, 1974). A alternativa do diabo (The devil’s alternative, 1979). O quarto protocolo (The fourth protocol, 1984). O manipulador (The deceiver, 1991). O punho de Deus (The fist of God, 1994). O manifesto negro (Icon, 1996). O vingador (Avenger, 2003). O afegão (The afghan, 2006). Cobra (The Cobra, 2010). Forsyth (Ashford, Inglaterra, 1938) recorre ao seu hábil estilo jornalístico, que se fundamenta em uma documentação meticulosa, para relatar com grande dose de adrenalina a operação de caça de um desses homens. Não tem nome, rosto e paradeiro conhecido, mas os efeitos de suas proclamações na Rede são letais. Apelidado de O Pregador por um ex-marine encarregado de neutralizá-lo (O Rastreador), ele utiliza a Internet como “controle remoto” para radicalizar jovens muçulmanos e instigá-los a matar. “Primeiro vem o ódio e depois a justificativa”, escreve o Forsyth narrador sobre esses cidadãos convertidos ao terrorismo que em seu livro atentam contra personagens da vida pública ao seu alcance. E o fazem à luz do dia, do mesmo modo que na vida real dois irmãos sem filiação conhecida fizeram explodir dois artefatos caseiros em plena maratona de Boston (abril de 2013) e um mês depois dois britânicos de origem nigeriana assassinaram a golpes de facão um soldado nas ruas de Londres. Diante de fatos como esses, e que ocorreram depois que o escritor havia começado a trabalhar em The Kill List, Forsyth não segue motivações de tipo social e político: “Ainda não sabemos porque esses jovens se radicalizam, o segredo continua encerrado em suas mentes”. De conhecido perfil conservador, o qual não lhe tira nenhum pouco da independência em suas opiniões, o escritor que antes exerceu o jornalismo na Reuters e na BBC não compartilha os argumentos da guerra contra o terrorismo que conduziram às invasões do Afeganistão e do Iraque. “A guerra do Iraque foi um desastre pessoal de George W. Bush, que quis vingar-se de Saddam Hussein por tentar matar seu pai e, ainda por cima, o estúpido do Tony Blair embarcou.” Esse é o seu veredito. Forsyth se agita quando fala do ex-primeiro-ministro britânico, um político que nunca perdoará, diz, “por ter mentido ao Parlamento” (garantindo que existiam provas sobre o arsenal de armas de destruição em massa de Saddam) e a quem responsabiliza pela enorme desconfiança que a classe política hoje suscita no Reino Unido. Ele também se mostra contundente na hora de qualificar Edward Snowden, o ex-analista de inteligência que vazou milhares de documentos sobre a espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana: “É um traidor que revelou à Al Qaeda o segredo dos programas de defesa e com isso nos tornou mais vulneráveis”. O autor, que alcançou o sucesso já com a publicação de seu primeiro livro, O Dia do Chacal, em 1971, continua a focar mais de uma dezena de livros depois (O Dossiê Odessa, O Punho de Deus, O Cobra...) “na mesma gama de personagens, de espiões, mercenários e terroristas... esse mundo continua sendo hoje o mesmo embora mudem os atores, antes, o IRA e o ETA, e agora, o fundamentalismo islâmico”. Desde os tempos daquele assassino contratado que tentava matar o presidente francês, Charles de Gaulle, até a presente era cibernética, as ferramentas que um escritor tem em mãos se sofisticaram muito, mas Forsyth prefere continuar ajeitando-se com suas fontes diretas, os seus contatos nos serviços de inteligência ou militares e os peritos em diversos campos, em lugar de recorrer à Internet para se documentar (“Em muito raras ocasiões checo datas no Google”, afirma). A precisão nos dados continua sendo sua grande obsessão, seja quando descreve minuciosamente as operações das agências de inteligência ou o sofisticado trabalho de um dos protagonistas de The Kill List, um jovem gênio da informática que ajuda o Rastreador a interceptar na rede o ciberpregador islâmico. A lista que tem como principal alvo esse instigador de terroristas “é necessária” no mundo de hoje, opina Forsyth, que não apoia a pena de morte no âmbito civil embora endosse, sim, a execução de terroristas identificados: “Terrorismo? Na guerra deve-se matar o inimigo. Legítima defesa”.

A agricultura salva novamente a economia brasileira


Se há um setor resiliente no Brasil é o agronegócio. Mais uma vez, a produção agrícola serviu de anteparo para o resultado do Produto Interno Bruto, que no terceiro trimestre recuou 0,5%. No acumulado do ano, o país cresceu 2,3%, com um peso importante da expansão de 7% da agricultura e a recuperação dos investimentos. A atividade no campo garantiu um Produto Interno Bruto (PIB) um pouco maior do que as previsões mais pessimistas. A safra prevista de grãos neste ano é recorde e está estimada em 193 milhões de toneladas, o que pode garantir novamente um “seguro verde” para o resultado do PIB deste ano. Apesar da seca em algumas áreas produtoras no começo deste ano, a analista da Agência Rural, Daniele Siqueira, acredita que, como a área plantada também aumentou, isso não vai prejudicar o PIB da agricultura em 2014. No último trimestre, a economia voltou a crescer, dissipando os fantasmas sobre um possível processo de recessão técnica, quando há expansão negativa por mais de dois trimestres. A melhora das exportações entre outubro e dezembro garantiu o avanço de 0,7% nesse período. Mesmo assim, qualquer avaliação feita sobre o conjunto da obra não é capaz de reverter o pessimismo dos especialistas. “É um resultado medíocre, muito abaixo do potencial da economia brasileira. Para voltarmos a crescer, ter novo ânimo, precisamos de uma mudança de política, de discurso. E não há nada que diga que algo vá mudar antes das eleições", diz Roberto Gianetti da Fonseca, vice-presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. E em 2014, a expectativa se repete. "As previsões entre 1,8% e 2,5% são as mais otimistas possíveis (para 2014). Não dá para ficarmos satisfeitos. É muito triste para o país, enquanto vemos vizinhos crescendo com taxas de 4%, 5%”, completa. O consumo das famílias subiu 2,3% no ano, configurando o décimo crescimento anual consecutivo. Porém, é o menor desde 2003. O ministro da Economia, Guido Mantega, atribuiu parte da dificuldade em crescer no ano passado ao mercado externo. “Se não houvesse dificuldades na economia internacional seria diferente”, disse Mantega, durante a apresentação dos resultados. Fonseca discorda. “Que ocorreram fatores internacionais é um fato, mas isso não justifica ou explica o desempenho medíocre. Poderíamos tomar medidas compensatórias para mitigar isso. A produção e a demanda no Brasil não sofreram tanta influência do mercado externo, como acontece em outros países, como o México ou a Malásia, por exemplo". Um dos setores que vêm amargando um desempenho sofrível é a indústria. No ano passado, avançou 1,26%. Para Vagner Alves, economista da Franklin Templeton, esse é o lado negativo do PIB de 2013. “A recuperação do setor não foi boa, e continuará ruim ao longo de 2014”, avalia. Fonseca, da Fiesp, vai além. Ele lembra que o país vive um processo de desindustrialização –há indústrias migrando para o Paraguai, por exemplo, atrás de custos mais baixos– pressionado pela competição com as importações, que no ano passado cresceram 8,4%. A indústria depende inclusive da importação de insumos, e a variação cambial também afetou o setor. “Em dez anos, o quociente de importação subiu de 16% para 24% de tudo o que se consome de bens e serviços no país", completa Fonseca. Para o sócio e economista-chefe do Banco Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, o anúncio do resultado não é um pibão nem um pibinho. “Representa um crescimento médio e mostra também que não conseguimos sair muito desses níveis de 2%”, afirma Goldfajn. “O que vemos é que outros países da região, como Colômbia e Peru, não tiveram quedas em seu crescimento tão grandes quanto a brasileira”, completa. Ele, porém, acredita que não é tão difícil o país diminuir a distância com relação aos vizinhos. Para isso, diz ele, deve entregar os resultados de uma política fiscal mais apertada. Ele ainda cita como exemplo que gostou do anúncio do Governo de atingir uma meta de 1,9% do PIB para o superávit primário neste ano, com um corte de 44 bilhões de reais do orçamento. “Parece que estão entendendo que vão ter de diminuir os gastos governamentais.” Na avaliação atual do departamento de economia do Itaú Unibanco, o Brasil deve crescer 1,4% em 2014. Já o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, acredita que o resultado do crescimento de 2013 significa uma recuperação em relação a 2012, mas se deve principalmente aos números positivos do primeiro semestre do ano. Não fossem as manifestações e protestos desencadeados em todo o país, ele acredita, o PIB brasileiro poderia ter sido mais robusto. “Não conseguimos chegar a um crescimento de nem sequer 3% nos últimos três anos. O mercado não está vendo as verdadeiras mudanças fiscais e monetárias que deveriam ser feitas, mas apenas pequenos ajustes”, diz ele. “Há um desgaste enorme na confiança e a perspectiva de Dilma governar até 2018, desgastada como já está, sinaliza um cenário complicado.”

Polícia brasileira mata cinco pessoas a cada dia


A cada dia, cinco pessoas são assassinadas pela polícia brasileira. O número, que se refere ao ano de 2012, é 4,6 vezes superior ao dos Estados Unidos. Naquele ano, 1.890 pessoas foram assassinadas no Brasil e 410 nos EUA. As informações foram levantadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma ONG que anualmente compila os dados estaduais e traça um perfil da violência pelas 27 Unidades da Federação. Apesar dos dados serem um tanto antigos, o ano de 2013 parece que não deve apresentar uma melhora tão significativa no cenário nacional. Uma breve análise sob as informações disponíveis em três dos cinco Estados mais populosos do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) mostra que a retração não foi tão grande no ano passado. As informações disponibilizadas pelas secretarias de Segurança Pública desses três Estados mostram que seus policiais matam, juntos, duas pessoas em média por dia. Esses dados que se referem a supostos confrontos entre criminosos e policiais, mas ele ainda está distante da realidade. Isso porque algumas investigações ainda estão em andamento, como o do caso de um jovem em Limeira (interior de São Paulo) que foi encontrado morto após ter sido preso, algemado e colocado dentro de um carro da PM. Esse óbito não entrou para a estatística de mortos por policiais. Em São Paulo, o Estado mais populoso do Brasil, apresentou uma diminuição das mortes cometidas por policiais militares. O ano passado registrou a menor letalidade da PM em 15 anos. Ainda assim, a polícia local responde por 7,5% de todos os assassinatos do Estado. No Rio, esse índice é de 8,7% e no Rio Grande do Sul, de 3,1%. Em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, três dos cinco Estados mais populosos do Brasil, duas pessoas são mortas por dia por policiais Para o sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, José Vicente Tavares dos Santos, esse índice ainda é alto porque a cultura policial é de que esse agente de segurança precisa ser um herói. Autor de estudos que analisam o treinamento policial, Santos é categórico em afirmar que é necessário mudar o ensino desses profissionais, caso contrário, a letalidade policial não se reduzirá tão cedo. “Em todas as academias de polícia em que estive pude perceber que o policial é preparado para atirar no coração do agressor. Não há uma preocupação de trabalhar o tiro defensivo ou de não usar armas letais como há na Inglaterra, por exemplo”, afirmou o especialista. Tânia Pinc, doutora em ciência política e major da reserva da PM, vai mais ou menos na mesma linha e diz que o problema da letalidade policial é exatamente a falta de treinamento. Ainda assim, segundo ela, é preciso analisar cada caso de morte provocada por um policial. “Temos a tendência de tratar a letalidade como uma ilegalidade. Nem todos os resultados letais são intencionais. Eles estão relacionados à falta de preparo. A maioria dos policiais não quer matar, mas, sob forte stress ele acaba usando a arma de fogo e matando. Ao invés de ser um instrumento de proteção da sociedade a arma acaba se tornando um objeto de defesa pessoal ”, avaliou a especialista que foi oficial na polícia por 25 anos. A cultura do heroísmo citada pelo sociólogo Santos não está apenas dentro da polícia. No Judiciário ainda é possível encontrar incentivadores dessa violência. Em setembro de 2011, por exemplo, uma reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que um promotor reclamava que um dos policiais conseguiu matar só um dos criminosos que atirou contra ele. Dizia o promotor: "Bandido que dá tiro para matar tem que tomar tiro para morrer. Lamento, todavia, que tenha sido apenas um dos rapinantes enviado para o inferno. Fica aqui o conselho para [o policial] Marcos Antônio: melhore sua mira..." Ainda hoje, a maneira mais comum de se medir a violência policial é analisar quantas pessoas foram mortas pelos agentes. Isso porque ainda não é possível aferir quantas foram vítimas de agressões gratuitas, como o motorista que foi parado porque passou na frente de uma moto de um PM, do jornalista que filmou uma abordagem e questionou a ação, da mulher que brigou porque um conhecido seu estava sendo preso e por aí vai. Basta fazer uma breve pesquisa na internet para encontrar dezenas de exemplos de atitudes incomuns de policiais. Esses casos são classificados pela cientista política Pinc como “ações abusivas invisíveis”. “Para se combater isso seria preciso ter um maior controle do policial. As denúncias feitas sobre esses abusos deveriam ser isentas e quem tiver a culpa ser punido. Mas, infelizmente, ainda temos poucos casos de punições, o que desestimula a denúncia e faz com que os casos continuem acontecendo” , ponderou. Em todas as academias de polícia em que estive pude perceber que o policial é preparado para atirar no coração do agressor José Vicente Tavares dos Santos, sociólogo e pesquisador A preocupação dos especialistas é que essa agressividade extrapole para momentos em que ela não é nem um pouco necessária como para conter manifestantes que não estão cometendo nenhum delito, como ocorreu nos últimos protestos contra a Copa do Mundo na capital paulista. “Temos que aproveitar esse momento de comoção social, essa série de protestos para rediscutir nossa polícia. O ideal é acabar com a PM? Eu acho que não. Deveríamos democratizá-la e reduzir algumas regras internas que são prejudiciais a ela”, disse o professor Santos. Policiais vítimas Algo que não dá para negar é que, ao mesmo tempo em que são autores de homicídios (ainda que em confrontos) os policiais têm sido vítimas em várias ocasiões. Em 2012, ao menos uma centena de policiais militares da ativa e aposentados foram assassinados em São Paulo em uma onda de violência que foi tratada como uma reação do crime organizado contra o fechamento de pontos de venda de drogas. Desde então, a tensão na tropa cresceu. Você tem de entender meu mundo. A todo momento eu acho que vou morrer. Não posso falar um ‘por favor’ ou um ‘muito obrigado’ para uma pessoa que pode estar querendo me matar Policial militar após uma abordagem Em um dos artigos publicados no “Anuário Brasileiro de Segurança Pública” , as pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz Edinilsa de Souza e Maria Cecília Minayo reforçam que “enquanto a sociedade reclama da letalidade produzida por eles contra a população, os policiais também estão morrendo violentamente em elevadas proporções”. No ano de 2012, por exemplo, 23 das 27 Unidades da Federação informaram que tiveram policiais assassinados durante o serviço ou nos horários de sua folga. Para essas duas pesquisadoras, há diversas razões para que eles sejam vítimas de homicídio. Eis algumas delas : a negação do perigo por considerar que medo, ansiedade e choro são manifestações de fraqueza e devem ser reprimidas, além do sentimento de urgência da vida, como se houvesse sobre eles uma "sentença de morte” antecipada. De fato, ao acompanhar uma recente abordagem policial de um homem na região central de São Paulo, a reportagem do EL PAÍS questionou por qual razão o PM havia sido tão agressivo ao abordar um cidadão que, sem querer, passou o carro na frente da moto do agente. A resposta do PM: “Você tem de entender meu mundo. A todo momento eu acho que vou morrer. Não posso falar um ‘por favor’ ou um ‘muito obrigado’ para uma pessoa que pode estar querendo me matar. Primeiro sou duro. Depois relaxo”. Ao que parece, o que ainda prevalece é aquela velha tese reproduzida nos filmes de bang-bang: atira primeiro, pergunta depois.
FONTE:el pais

Marcha em apoio a El Chapo


O absurdo marchou na tarde desta quarta-feira 26 pelas ruas de Culiacán, a capital de Sinaloa (noroeste do México). Cerca de 2.000 pessoas vestidas de branco foram para a avenida Obregón para pedir a libertação de Joaquín El Chapo Guzmán, líder de uma poderosa quadrilha de traficantes do Pacífico, que foi capturado pelo Governo mexicano no sábado passado depois de 13 anos fugindo da justiça. A polícia tratou de dispersar a manifestação e foi desafiada por alguns manifestantes, que queimaram pneus em seus carros. Os policiais lançaram gás lacrimogêneo e detiveram dez pessoas. Em Culiacán, cerca de 2.000 pessoas assistiram à marcha, segundo a imprensa local. Bandas de música animaram a marcha. Homens com o rosto coberto repartiram água, cerveja e tamales (uma espécie de pamonha) com os manifestantes. Nas redes sociais foram divulgadas imagens de algumas pessoas que percorreram os quatro quilômetros do trajeto. “Queremos o Chapo livre”, dizia uma faixa. “O povo não está de acordo com a extradição. Não vamos permitir. Exigimos que isso não proceda (sic)”, dizia um cartaz nas mãos de um jovem com a cara coberta, segundo uma fotografia publicada pelo diário Noroeste. Em muitas das imagens publicadas pelos meios locais podem ser visto menores de idade que participaram da manifestação. O convite foi feito por redes sociais e através de mensagens pelos celulares. Em Guamúchil, um município ao norte do estado, foram distribuídos panfletos convocando a manifestação. “Favor ir de branco, o motivo da marcha é exigir a libertação do Chapo e herói de Sinaloa”, dizia o papel. Em Culiacán, uma cidade de 800.000 pessoas, a marcha avançou por uma das avenidas principais a partir de uma igreja até o palácio autárquico. Veículos de luxo escoltaram os manifestantes. Dos carros de som saíam gritos alusivos ao narcotraficante detido. A detenção de Guzmán abriu um debate sobre se deve ou não entregar às autoridades dos Estados Unidos para que seja julgado por seus crimes lá. Nesta terça-feira, um juiz deu voz de prisão ao Chapo, que tinha fugido de um presídio de segurança máxima em 2011 depois de ficar preso desde 1993 pelo crime de formação de quadrilha e suborno. Até o momento, Guzmán Loera não tinha sido culpado pelo crime de narcotráfico em território nacional.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Petrobras bate recorde diário no pré-sal com novo poço em Sapinhoá


SÃO PAULO, 25 Fev (Reuters) - A produção de petróleo da Petrobras no pré-sal das bacias de Santos e Campos atingiu um recorde de 407 mil barris por dia (bpd) em 20 de fevereiro, informou a empresa. A marca está associada ao início da produção do poço 9-SPS-77 no campo de Sapinhoá, na Bacia da Santos, na semana passada. Segundo a Petrobras, o poço atingiu produção inicial de 36 mil bpd. Inicialmente, a empresa havia informado uma produção de 33 mil bpd no poço, o que já dava a ele a condição de maior poço produtor do pré-sal brasileiro. A petroleira tem 21 poços produzindo no pré-sal, segundo comunicado publicado hoje em jornais brasileiros. Destes, 10 poços estão na Bacia de Santos e respondem por 59 por cento da produção do pré-sal, com 240 mil bpd. Outros 11 poços estão na Bacia de Campos, com 41 por cento da produção, ou 167 mil bpd. A produção do pré-sal ocorre por meio de 10 plataformas. Três novas plataformas entrarão em operação no pré-sal em 2014: P-58, no campo Norte Parque das Baleias (1o trimestre); FPSO Cidade de Ilhabela, em Sapinhoá (3o trimestre); e FPSO Cidade de Mangaratiba, em campo de Lula/área Iracema Sul (4o trimestre). Com estas e outras plataformas, a Petrobras espera superar 1 milhão de bpd nas áreas que opera no pré-sal já em 2017.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A iniciativa sobre a Internet de Dilma Rousseff enfrenta a indústria e usuários


Após o escândalo das revelações da espionagem dos EUA contra seus aliados, desatado pelo caso Snowden, o Brasil envergou a bandeira do nacionalismo cibernético para garantir a proteção de dados e a transparência na internet. Além das desavenças públicas com Barack Obama depois da revelação de que Washington espionou as comunicações da presidenta e de empresas como a Petrobras, o Governo de Dilma Rousseff desempoeirou com urgência um velho projeto de lei, o chamado Marco Civil, uma espécie de Constituição da internet, para retirar o Brasil do radar norte-americano e dos tentáculos do Google e da Microsoft, algumas das companhias que colaboraram com a NSA. O aspecto mais polêmico da lei, cuja ideia surgiu há seis anos e que está sendo debatida atualmente no Congresso brasileiro, é o que obrigaria grandes provedores da internet que operam no país a nacionalizarem suas bases de dados e a guardarem os registros durante pelo menos um ano. Um integrante do Governo tornou público, além do mais, um plano para criar um cabo submarino alternativo que evitaria o território dos Estados Unidos, mas ligaria o país com a Europa, a Ásia e a África, e a própria Rousseff anunciou no seu Twitter a criação de um correio eletrônico criptografado, dependente de uma rede local que não atravesse o solo norte-americano. A polêmica estourou porque esses passos apontam integralmente para aquela que será, segundo os especialistas, a próxima batalha na rede mundial de computadores: liberdade ou controle, governos ou cidadãos, superexposição ou direito ao esquecimento digital. De fato, vários gigantes da informática e meios de comunicação anglo-saxões acusam Rousseff de querer isolar o seu país, a comparam aos dirigentes chineses e iranianos e alertam sobre efeitos indesejados da lei, como afugentar o investimento estrangeiro nesse setor e condenar os internautas brasileiros à segregação digital, embora em alguns países europeus exista uma legislação parecida, que protege determinadas informações sensíveis. “Preocupa-me mais a balcanização da rede do que o caso Snowden”, chegou a dizer o presidente do Google, Eric Schmidt. A iniciativa também dividiu os provedores brasileiros. A Abrint, associação brasileira do setor, manifestou seu apoio ao Marco Civil e à aposta na neutralidade da rede, enquanto outra entidade da área, a Abranet, mostrou-se contra algumas modificações em certos artigos, os quais, segundo ela, colocam em risco a liberdade de expressão. “[O projeto do Marco Civil] tem muitos aspectos positivos, mas pontos negativos”, diz o advogado Ronaldo Lemos, um dos autores do projeto inicial, que era, segundo suas palavras, muito menos controverso. “A obrigação de instalar os data centers no Brasil pode dissuadir as empresas estrangeiras de oferecerem seus serviços, diante do temor de aumentar seus custos, e ser um obstáculo para as companhias brasileiras que pretendam se instalar no mercado local ou global”, afirma. “E além do mais”, acrescenta Lemos, “paradoxalmente poderia se obter o efeito contrário ao que o Governo diz perseguir: que os usuários fiquem desprotegidos e que seus dados venham a público. O texto original estabelecia que, para proteger a privacidade, o armazenamento dos registros seria facultativo, e não obrigatório (embora pudesse ser solicitado de forma oficial). No entanto, agora existe a possibilidade de que esses dispositivos possam se alterar, e os dados de acesso de todos os brasileiros precisem ser obrigatoriamente armazenados, o que seria negativo para a sua privacidade, que é o que se deveria proteger”. Lemos não é o único especialista que pensa assim. Outros veem nessa medida um componente econômico e protecionista, continuação da chamada reserva de mercado da informática – restrições impostas por Brasília a esse setor durante 20 anos, até 1992, com o objetivo de criar uma indústria nacional, com a ajuda de um férreo sistema tributário. Instalar um data center no Brasil custa cerca de 143,4 milhões de reais, contra 114,6 milhões no México e 101,2 milhões nos Estados Unidos, e segundo um relatório da consultoria Cushman & Wakefield o Brasil estava em 2012 classificado em último lugar entre 30 países analisados quanto à segurança digital, por causa das altas tarifas elétricas, do baixo nível educacional e das dificuldades para abrir uma empresa, e apesar de a população ser muito ativa nas redes sociais e de haver mais de 100 milhões de internautas. “Trata-se de uma operação tecnologicamente complicada”, diz o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, analista do Wilson Center Brazil Institute, que também salienta os possíveis prejuízos para o consumidor. Já para Joanna Varon, da Fundação Getulio Vargas, há infraestruturas muito mais importantes, custosas e de longo prazo que poderiam diversificar as rotas de tráfego de dados, e que “não começariam por aí, e muito menos em uma carta de princípios como o Marco Civil”. Segundo os especialistas, tampouco parece que essas medidas conseguirão dissuadir a NSA de controlar as redes brasileiras, um dos principais nós de comunicação do planeta, como mostrou uma recente reportagem da revista New Yorker. A maior parte do tráfego da internet na América do Sul e Central passa por um edifício, situado em Miami, chamado Network Access Point of the Americas, e a construção de um cabo alternativo custaria bilhões de dólares, sem impedir que Washington continue tendo a possibilidade de obrigar o Google ou o Facebook a fornecerem dados armazenados no Brasil. “Na verdade, pela arquitetura atual da rede, grande parte da transferência de dados na internet passa pelos Estados Unidos, ou seja, continuam sujeitos à espionagem. Por isso, o cenário que confrontamos agora mostra como é cada vez mais importante ter outras rotas”, disse Varon, para quem o mais urgente é a aprovação do projeto de lei de proteção dos dados pessoais. Enquanto isso, os esforços brasileiros, postos em cena num discurso de Dilma Rousseff em setembro perante a Assembleia Geral da ONU, no qual se pronunciou a favor da neutralidade e da governança da rede para evitar o que chamou de “uma guerra virtual”, foram muito bem recebidos pela população, em especial pela esquerda, que se lembra da aquiescência de Washington à ditadura militar de 1964 a 85. “Se não fosse pela NSA, esse assunto teria sido adiado até 2014. No entanto, o tema tem agora um grande impacto eleitoral, e é vista com simpatia essa posição de desafio com relação aos Estados Unidos”, afirma Lins da Silva. “Ao contrário dos seus antecessores, Fernando Henrique Cardoso e Lula, Dilma Rousseff não tem as bandeiras internacionais que eles tinham. Então a presidenta aproveitou bem a oportunidade que o assunto da espionagem lhe brindou. Ao contrário de Angela Merkel, congelou ou paralisou a relação com os Estados Unidos, e isso não é bom para o Brasil”, conclui. “Rousseff teve a coragem de liderar o debate internacional sobre a privacidade na rede”, afirma, por sua vez, Camille François, pesquisadora da Universidade Harvard (EUA), que já trabalhou, entre outros, para o Google e a Agência de Projetos Avançados de Pesquisa da Defesa dos EUA (Darpa, na sigla em inglês). “É o que ela disse perante a ONU e o que podemos ler no esboço apresentado pela Alemanha e o Brasil. Ela parece disposta a buscar um debate internacional construtivo sobre o que os países podem esperar e concordar para proteger a liberdade individual na era digital, não um cenário em que cada um se refugie no seu jardim murado. É uma conversa aberta, da qual têm participado especialistas, advogados e empresas da internet, não uma série de anúncios inesperados que não se sabe de onde saem.” Controlar a informação é uma obsessão de todos os governos, e ainda mais no século XXI, no qual o avanço das telecomunicações torna quase ingovernável o tráfego de dados, cujos fins podem ser ou não benéficos. A iniciativa de Rousseff parece necessária para regulamentar fenômenos impensáveis até pouco tempo atrás, mas também é uma tentativa de impor limites que poderão se voltar contra ela.

O escândalo da espionagem impulsiona a iniciativa de unir Brasil e Europa por cabo






Duas das mulheres mais poderosas do mundo sofreram nos últimos meses do mesmo problema. Os serviços de segurança dos Estados Unidos espionaram, entre outros muitos líderes, a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e a chanceler alemã, Angela Merkel. Escutas levadas a cabo por um país amigo serviram para convencer Rousseff da necessidade de dotar de maior segurança às comunicações, ideia sobre a qual girou o encontro UE-Brasil ocorrido nessa segunda-feira 24 em Bruxelas. “Queremos comunicações que sejam seguras e nas quais a UE e o Brasil possamos confiar”, assegurou a mandatária brasileira junto aos presidentes da Comissão, José Manuel Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Com sua visita à capital comunitária, Rousseff quis impulsionar um projeto que unirá por um cabo pelo Atlântico os 5.600 quilômetros que separam a cidade brasileira de Fortaleza de Lisboa. “Temos que respeitar a privacidade, os direitos humanos e a soberania das nações. Não queremos que nossos negócios possam ser espiados”, acrescentou a presidenta. Fontes europeias apontaram que o principal obstáculo com qual o projeto terá que lutar será encontrar os cerca de 185 milhões de dólares (cerca de 440 milhões de reais) necessários para o financiamento. O consórcio encarregado da obra, que tem início previsto para a primeira metade deste ano, estará formado pela operadora brasileira Telebras, a empresa espanhola Islabank e um fundo de investimento brasileiro, segundo as fontes. O cabo de nova construção vai competir com o que agora envia os dados de América do Sul aos Estados Unidos através de Miami, operado pela espanhola Telefónica. A comunicação de fibra óptica mais longa que agora está operativa é a que une a Alemanha com o leste da Ásia. A notícia de que os EUA tinham grampeado o telefone de Rousseff disparou a tensão até o ponto em que a presidenta brasileira suspendeu, em setembro do ano passado, uma visita oficial a Washington. O projeto de cooperação com a Europa se apresenta como um movimento vital para um país como o Brasil, cujos canais de comunicação por cabo passam sem exceção pelos Estados Unidos. A colaboração entre Brasil e Europa para impulsionar a agenda digital não acaba com a visita de Rousseff a Bruxelas. No próximo mês de abril ocorre em São Paulo um encontro multimídia para desenvolver uma melhor governança da Internet, na qual os representantes europeus se reunirão com os brasileiros na busca de um objetivo pelo qual Merkel já pediu. A chefa de Governo alemã propôs há uma semana a criação de uma rede de dados europeia que evite o envio das informações digitais por servidores informáticos norte-americanos.

As tendências do Mobile World Congress 2014


Não diga smartphone, diga, simplesmente, móvel. Com bilhões de telefones inteligentes vendidos no passado ano (53% do total), e a previsão de que subam a 70% em 2014, só vai restar um tipo de celular no mundo. Em um cenário de bonança, otimismo, e dinamismo total, começa em Barcelona uma nova edição da Mobile World Congress (MWC). Primeiro foi a feira das operadoras (o organizador é a associação GSMA), que depois perdeu seu protagonismo para os fabricantes de celulares e, há dois anos, o foco está naquilo que corresponde ao aparelho, os aplicativos. Por isso as estrelas da feira não são César Alierta (Telefônica) ou Vittorio Colao (Vodafone), senão Mark Zuckerberg (Facebook) e Jan Koum (WhatsApp). Como em qualquer boa passarela de moda, no MWC 2014 muitas extravagâncias vão ser apresentadas, mas servem para confirmar as tendências do próximo ano e, talvez, até do seguinte. O que está além é ficção científica setor ímpar. Telefones de 6 polegadas. A chinesa ZTE apresenta o celular Grand Memo II LTE com uma tela de 6 polegadas, se unindo assim aos que já têm Huawei, LG e Sony, entre outros. Sem chegar tão longe, a Samsung anuncia o Galaxy 5S, um pouco maior que seu antecessor (5,2 polegadas). E isto é significativo, porque não se trata de um modelo extremo, mas de um dirigido a conquistar as massas. Da tendência à tela maior não se livra ninguém; inclusive arrastará —sim, embora pareça estranho— a Apple, que antes do fim do ano lançará um iPhone de 5 polegadas e mais. Preços mais baixos. Sempre existirão aqueles que pagam mil euros por uma bolsa sendo que há de 30. O mesmo ocorre com os celulares. À margem desse pequeno segmento do mercado (embora muito suculento), a tendência é a contínua queda de preços e, além disso, aumentando a qualidade. Não há que gastar 800 euros para ter um smartphone de qualidade. Há por menos de 100, graças aos fabricantes chineses. E essa oferta toca fundo, acima de qualquer preconceito. Basta um exemplo: as vendas de celulares chineses na Amazon se multiplicaram por 94 no último ano. O modelo mais popular é o Huawei Y300, que custa 93 euros (300 reais, aproximadamente 450 reais nas lojas brasileiras). Mas nem Huawei, que também tem modelos de 600 euros (1.900 reais), tem seu mercado assegurado. Emergem marcas como Bogo, Hisense, Jiayu, Lenovo, THL, UMI, Xiaomi y Zopo. Quem não tem um smartphone é porque não quer. Biometria pelas veias. Fujitsu apresenta no MWC um aparelho que liga com o toque da palma da mão. Reconhece as digitais do proprietário e se desbloqueia. Outra tecnologia permitirá capturar, com as pontas dos dedos, imagens e documentos para copiá-los ou movê-los. A biometria em produtos de consumo deixou de ser uma excentricidade e aqui sim temos que agradecer a coragem da Apple ao o adaptar o iPhone 5S. É o ano da biometria popular, como comprovamos com o aplicativo Ergo, que reconhece o dono do celular pela fisonomia de suas orelhas. A câmera, fundamental. Fotografar ou gravar é a segunda atividade mais frequente com o celular. Por culpa do selfie, o autorretrato, as câmeras frontais melhoraram, um exemplo mais do dinamismo da indústria telefônica para continuar tentando o público a renovar o aparelho. O mais inovador vem da Ásia. O chinês Oppo incorpora câmeras giratórias; o indiano iBerry, câmera de 8 megas para os selfies; o chinês Xiaomi M30, câmera de 13 megas com ajustes manuais... 'Wearables' para todos. São acessórios tecnológicos pessoais. Um simples fone de ouvido é agora um wearable, mas os fones comuns se comunicam agora por bluetooh com os smartphones e amplificam os sinais. Esse é só um dos avanços que serão apresentados no MWC. Na Europa, a compra de monitores de pressão arterial conectados aumentou 42%; as balanças, 88%, as pulseras inteligentes dobraram. O wearable não pode ser entendido fora do carro nem do lar, e sempre ao redor do smartphone, o centro de tudo, acima do tablet e do computador. Internet das coisas. Talvez seja o melhor que ocorra às operadoras nos próximos anos. Sem SMS (WhatsApp o matou), sem telefonemas internacionais (Skype), sem redes sociais (Facebook), as operadoras têm um novo negócio no M2M, a conexão máquina com máquina. Samsung-Apple, nem mais nem menos. A diversidade de ofertas vai furar o domínio destes dois gigantes. A Apple continuará vendendo mais celulares mas perderá cota de mercado; o mesmo ocorrerá com Samsung, enquanto crescem as marcas chinesas. Android-iOS, sim, mas menos. O duopólio de sistemas operacionais será reduzido pelo surgimento do Windows Phone que toma o lugar do Blackberry. Também o do Firfeox-Os que, com ZTE y TCL, será implantado em smartphones de menos de 90 euros (290 reais).

Espanha pega um grupo fácil no caminho para a Eurocopa


Luxemburgo, Macedônia, Bielorrússia, Eslováquia e Ucrânia. Esses são os cinco rivais da Espanha para tentar se classificar para a Eurocopa da França de 2016 (10 de junho ao 10 de julho) e defender os títulos de 2008 e 2012. O time treinado por Vicente Del Bosque acabou enquadrado em um grupo feito sob medida para tentar manter sua rajada de presenças no torneio continental, reunião à que não falta desde 1992, há mais de 20 anos. Os grupos Grupo A: Holanda, República Tcheca, Turquia, Letônia, Islândia, Cazaquistão. Grupo B: Bósnia Herzegovina, Bélgica, Israel, Gales, Chipre, Andorra. Grupo C: Espanha, Ucrânia, Eslováquia, Bielorrússia, Macedônia, Luxemburgo. Grupo D: Alemanha, Irlanda, Polônia, Escócia, Geórgia, Gibraltar. Grupo E: Inglaterra, Suíça, Eslovênia, Estônia, Lituania, San Marino. Grupo F: Grécia, Hungria, Romênia, Finlândia, Irlanda do norte, Ilhas Feroe. Grupo G: Rússia, Suécia, Áustria, Moldávia, Montenegro, Lietchtenstein. Grupo H: Itália, Croácia, Noruega, Bulgária, Azerbaijão, Malta. Grupo I: Portugal, Dinamarca, Armênia, Albânia. Assim, La Roja evitou os rivais mais complicados: Bélgica, que podia ter caído desde a segunda rodada do sorteio; e Sérvia ou Turquia, com a que o destino podia ter cruzado desde a terceira. O sorteio definiu os nove grupos, oito com seis países cada um e um que terá só cinco. A fase de classificação da primeira Eurocopa da história com 24 países começará dia 7 de setembro de 2014, logo após o fim do Mundial de futebol deste verão, que acontece no Brasil, e terminará no dia 13 de outubro de 2015. Os dois melhores times de cada grupo se classificam para a fase final junto do terceiro melhor equipe de todos os grupos. Os oito terceiros restantes se enfrentarão na fase de play-off para decidir os outros quatro classificados. Pela primeira vez, os encontros se jogarão de quinta a terça-feira, às 18:00h e às 20:45h O corpo técnico de La Roja conhece bem seus próximos rivais. Ucrânia ficou muito próximo da Copa do Mundo 2014, eliminada pela França em uma grande partida em Saint-Denis. Sua única participação em uma fase final europeia foi em 2012, como anfitrião. A Eslováquia foi a rival da Espanha na última vez que a seleção jogou sua participação em uma fase final na repescagem. Foi para conseguir o bilhete para o Mundial de 2006 e os espanhóis não falharam. Desde que se separou da Tchecoslováquia, nunca conseguiram entrar em uma fase final europeia. Na última fase de classificação, não conseguiu marcar mais de um gol em nenhum dos dez jogos disputados. A Bielorrússia repetirá contra a Espanha em uma fase de classificação, depois de ter sido rival para o Mundial do Brasil. A Espanha ganhou os dois encontros e a Bielorrússia acabou em última do grupo. A Macedônia, uma equipe corrosiva, fiará todas suas alternativas aos jogos que dispute como mandante, enquanto Luxemburgo já se acostumou ao papel de figurante: só seis vitórias em 99 encontros em fases de classificação europeias. Sorteio foi dirigido para evitar um Gibraltar-Espanha e Azerbaijão-Armênia Antes do sorteio, a UEFA chegou a um acordo com as federações. O sorteio seria dirigido, não puro, para evitar conflitos. Assim "por motivos políticos", especificou o organismo, Gibraltar não podia coincidir no mesmo grupo de Espanha nem Azerbaijão no da Armênia. A seleção do Peñón acabou no Grupo D, com Alemanha. Não foi o único elemento que marcou o sorteio. Por ordem da televisão, as seleções mais potentes (Inglaterra, Alemanha, Espanha e Holanda) deviam estar em um grupo de seis equipes, e não podiam acabar no de cinco.

A arte renasce entre as bombas


A guia para solenemente diante do rosto impávido da Dama de Warka. “Ainda que tenha sido roubada após a invasão americana, foi recuperada e restaurada”, explica. A chamada “Mona Lisa suméria” é uma das joias do Museu Nacional do Iraque que, segundo seus responsáveis, está prestes a reabrir para o público. É a segunda tentativa em cinco anos. Depois de três décadas de guerras, o Iraque quer recuperar um passado mais glorioso sobre o qual quer enraizar seu futuro. “Vamos fortificar a alma nacional dos iraquianos, porque aqui está guardada a história e a civilização do Iraque”, assegura ao EL PAÍS Qais Husein Rashid, um especialista em arqueologia islâmica que foi nomeado diretor do museu há apenas um mês. “É um passo muito importante também para os estudiosos e os turistas que nos visitam”. Porém, essas boas intenções despertam suspeitas em um ano eleitoral. As instalações parecem ter mudado um pouco desde a última visita desta correspondente, em 2009, na véspera de sua reabertura com rufos de tambores pelo primeiro-ministro Nuri al Maliki. Desde então, apenas duas salas possuem um sistema de iluminação moderno, painéis divisórios e cartazes informativos. As demais mantêm o mesmo aspecto de abandono do resto do país, embora alguns restauradores se empenhem em algumas peças. “Ficou aberto por apenas uma semana”, admite o responsável sem entrar em detalhes. O temor de um novo roubo ou atentado por conta da insegurança do país levou o museu a limitar o acesso aos visitantes estrangeiros, diplomatas ou grupos escolares. A então diretora, a arqueóloga Amira Edan al Dahab, revelou com a sua falta de entusiasmo as dificuldades enfrentadas pelo projeto sem fundos ou meios de segurança necessários. Principalmente devido à interferência política. Soldados americanos fazem a segurança das instalações do Museu Nacional do Iraque em julho de 2003 / GETTY Assim como Saddam Hussein quis usar o museu para arabizar a história do país, alguns especialistas acusam os atuais dirigentes de “seguir uma agenda islâmica radical na preservação das antiguidades”. O ministro de Turismo, Liwaa Semeism, de quem depende a Organização de Antiguidades, reduziu o poder da instituição e tem sido relutante com a presença de arqueólogos estrangeiros no país. Os islamistas receiam a arqueologia, objeto de estudo do museu inaugurado em 1926, a pedido da exploradora britânica Gertrude Bell, e que guarda o legado das origens da civilização, desde a invenção da escrita até a criação das primeiras cidades.O novo diretor evita entrar em polêmicas e se diz “muito feliz” com a reabertura próxima da galeria. “Será em meados deste ano, ainda que não possa dar uma data exata”, se desculpa. “No total, serão abertas 15 salas, ordenadas de forma cronológica, da pré-história ao período islâmico”, acrescenta. Na visita posterior, o último período pesa proporcionalmente mais que os 4.000 anos precedentes, em termos tanto de espaço quanto de representação, mas no momento só é possível acessar sete salas. Rashid assinala que as esculturas “estão em bom estado de conservação”, e que “foi recuperada a maioria das peças que foram roubadas” no começo da invasão americana e anteriormente. “Vamos dedicar uma sala especial a elas”, anuncia. Nunca foi conhecida com exatidão a extensão dos saques. Estima-se que foram recuperados 9.000 dos 15.000 itens que os conservadores deram falta, mas algumas das peças que inicialmente foram consideraras roubadas apareceram mais tarde nos porões, onde funcionários tentaram protegê-las. No entanto, a multidão que invadiu o museu conseguiu abrir o depósito principal, destruiu algumas peças de 2.000 anos de antiguidade e levou milhares de selos, tábuas sumérias e artefatos de valor simbólico como a Dama de Warka. Somente duas salas têm um aspecto diferente do abandono do país Essa cabeça de mulher esculpida em mármore foi encontrada em 1938 em Warka, no lugar da antiga Uruk, e recuperada meses depois em uma propriedade rural pelos soldados americanos. Sua devolução ao museu se converteu em emblema dos esforços para fechar a ferida que causou o saque ao museu ante a passividade das forças ocupantes. Porém, o espólio de antiguidades no Iraque precede a invasão e continuou depois dela. No sul do país, que foi o centro da antiga Mesopotâmia, os saques já aconteciam desde o fim dos anos 90 e atingiram proporções alarmantes entre 2004 e 2005. “As peças mais relevantes foram recuperadas”, insiste Rashid, que agradece a ajuda da Espanha na devolução de nove tábuas e vários colares da III dinastia Ur, um dos períodos mais brilhantes da cultura suméria. As 22 peças foram roubadas em 2003 da cidade iraquiana de Urusagrig e localizadas pela Brigada de Patrimônio Histórico em uma casa de leilões de Madrid em 2011. Foram resgatadas 9.000 das 15.000 peças que desapareceram

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Cerimônia no Vaticano contou com a presença do papa emérito Bento XVI. Com Dom Orani, o Brasil passa a ter 10 cardeais.


O papa Francisco anunciou neste domingo a nomeação dos dezesseis primeiros cardeais eleitores, com menos de 80 anos, de seu pontificado, entre eles o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta. Francisco divulgou também três cardeais eméritos, sem poder de voto em caso de conclave para eleger um novo papa. Um brasileiro está na lista dos novos cardeais do pontificado do papa Francisco. Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, foi um dos escolhidos. Além do religioso foram nomeados outros 15 cardeais eleitores. Francisco anunciou também três cardeais eméritos, sem poder de voto em caso de conclave para eleger um novo papa. De uma família de imigrantes italianos, Orani Tempesta nasceu em junho de 1950 na pequena São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo. Especialista em comunicação, Orani foi o presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB, por dois mandatos consecutivos. Em 27 de fevereiro de 2009, o então papa Bento XVI o nomeou arcebispo do Rio. Os 19 novos cardeais receberão o capelo e o anel cardinalício no dia 22 de fevereiro no Vaticano. Dos 16 com direito a voto no conclave, doze são arcebispos de cidades grandes e apenas quatro trabalham na Cúria romana. O papa argentino, que defende uma igreja pobre para os pobres, designou personalidades provenientes de comunidades esquecidas e periféricas, entre eles os arcebispos de Haiti, Costa do Marfim e Burkina Faso. Os cardeais têm a tarefa de ajudar o sumo pontífice no desenvolvimento do ministério.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Governo abre processo seletivo para conceder novas Bolsas Esporte ,


Governo abre processo seletivo para conceder novas Bolsas Esporte O Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) e da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), abriu processo seletivo para conceder novas 173 Bolsas Esporte de incentivo aos atletas e paraatletas residentes na Bahia. O Edital 01/2014 está publicado no site da Sudesb. As inscrições começaram nesta quinta-feira, 20, e terminam no próximo dia 28 de março. Cada atleta ou paraatleta poderá encaminhar inscrição para apenas um pedido. A Lei 11.363/2009 que instituiu o Programa Estadual para Apoio à Prática do Esporte (Bolsa Esporte), atende atletas e paratletas baianos em seis categorias: Internacional A, B e C; Nacional A e B; e Talento Esportivo. O benefício máximo oferecido pelo Governo do Estado é de até R$ 2 mil por mês, e o mínimo de R$380,00, sendo concedido, mensalmente, pelo prazo de 01 (um) ano e renovável por igual período. Para pleitear este apoio financeiro, os atletas e paratletas precisam apresentar um plano anual de participação em competições e de treinamento; não ter sofrido penalidade imposta por tribunais de Justiça Desportiva, federações ou confederações nas modalidades correspondentes nos últimos dois anos.

Polícia de São Paulo tenta esvaziar manifestação contra a Copa


Pelo menos uma dezena de pessoas receberam na quinta-feira um documento da Secretaria de Estado de Segurança Pública. Trata-se de uma intimação para comparecer ao departamento da Polícia Civil que investiga o crime organizado no próximo sábado dia 22, às 16 horas. Coincidentemente, mesmo dia e horário previsto para o segundo ato contra a Copa em São Paulo, convocado um mês atrás. A polícia não costuma intimar suspeitos de crime para prestar depoimentos nos finais de semana. O documento pede aos destinatários que compareçam na delegacia “trajados adequadamente” para esclarecimentos nos autos do inquérito policial que investiga os crimes de danos e formação de quadrilha. Vários participantes habituais de manifestações começaram a compartilhar no Facebook a intimação. Muitos deles surpresos por nunca terem sido presos pela polícia ou por não serem partidários da violência nos protestos. Todos eles chamaram a atenção para a coincidência da convocatória com o protesto. “Eu participo dos protestos desde que o Gigante acordou. Quando recebi a intimação pensei: Tanta gente para intimar e vão mandar justo pra mim? Não quebro nada e sou contra a violência… Sou apenas um manifestante. Posso até organizar manifestações. Mas e daí?", explica um dos destinatários da carta que quer manter o anonimato. “Eu já fui abordada e parada várias vezes nos atos, mas nunca fui detida. E no papel não aparece meu nome, e sim meu nome do face! Eu acho que o que eles querem é amedrontar!”, conta outra das convocadas. A intimação que, no texto, apela aos “bons préstimos”, adverte no final do documento que o intimado não pode faltar porque estará sujeito às penas da lei. Em concreto, o artigo 330 do Código penal que define os crimes de desobediência e desacato. Punidos com multa e com prisão de15 dias até seis meses. Procurada ontem, a Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou. Hoje, confirmou que há depoimentos agendados pelo DEIC "como parte das investigações que apuram práticas criminosas em manifestações". Porém não se manifestou sobre a coincidência dos depoimentos com o protesto. "Parte dos depoimentos acontece neste sábado. Outros serão agendados nos próximos dias. Desde outubro, o DEIC já realizou mais de 80 depoimentos", disse a nota.

“O dano na Coreia do Norte é quase como o do Holocausto”


O investigador especial da ONU sobre os direitos humanos na Coreia do Norte e coautor do recente relatório em que foram documentados crimes contra a humanidade, jamais pôde entrar no país desde que assumiu o cargo. Marzuki Darusman (Yakarta, Indonésia, 1945), no entanto, conheceu Pyongyang há 15 anos quando era parlamentar. “Estava muito limpo. Era como uma clínica”, lembra ele, de Genebra, em uma entrevista por telefone. Pergunta. As atrocidades do regime dos Kim eram conhecidas, mas agora a ONU os acusa de piores crimes. Resposta. Agora temos uma imagem completa do que ocorre. Antes disso, tínhamos uma imagem fragmentada. Este relatório reúne tudo: os depoimentos, os especialistas e informações de outros relatórios. É um imagem completa de um sistema totalitário sem par no século XXI. P. Como a comunidade internacional deve responder? R.Deve seguir com a investigação para processar os principais responsáveis por esses crimes contra a humanidade, que se perpetraram, se perpetram e seguirão sendo perpetrados no futuro próximo. Sugerimos que o caso seja encaminhado à Corte Penal Internacional. Embora os crimes anteriores a 2002 [data da entrada em vigor do Estatuto de Roma] não possam ser julgados, isso representaria um início. Além disso, os casos de sequestro e de desaparecimentos forçadas não prescrevem e podem ser pesquisados até a localização da vítima. MAIS INFORMAÇÕES Um desertor: “Delatei minha mãe por uma ração de arroz” PARA DOWNLOAD Informe da ONU sobre a Coreia do Norte (em inglês) P. Mas é provável que China, o maior grande aliado de Pyongyang, exerça seu direito de veto no Conselho de Segurança. Que ocorrerá então? R. A China disse o encaminhado à Corte Penal Internacional não ajudará. Mas ainda fica em um mês [para o apresentar à Comisión de Derechos Humanos de la ONU]. A expectativa é de que Pequim vete, mas seria uma agradável surpresa se não bloqueasse isso. P. As negociações políticas sobre o programa nuclear fracassaram. Esse fracasso se deve à decisão de judicializar o assunto? R. Os dois assuntos não estão realmente conectados. O caso nuclear é um assunto em si mesmo, mas é verdadeiro que a situação de segurança influi na repressão. Se a tensão aumentar na península, os fugitivos tendem a ir para a fronteira [com China], a mais fechada do mundo. E, se a tensão diminuir, as pessoas têm mais possibilidades de cruzar a fronteira. P. O senhor acha que a ONU não espera mudanças imediatas enquanto sejam cometidos crimes brutais. A única saída dos norte-coreanos é fugir para a China e evitar uma repatriação? R.Sim. Por isso mencionamos pela primeira vez a China em um relatório e instamos o país a respeitar o princípio de não repatriação para a Coreia do Norte. Hoje, a China não considera os norte-coreanos solicitantes de asilo, mas refugiados econômicos. Tratam o assunto como um caso de imigração. P. Por que decidiram fazer audiências públicas? R. Era essencial que fossem públicas. São histórias pavorosas, inimagináveis em termos da capacidade de resistência do ser humano e ainda infligem danos a outros. É quase como o Holocausto. É incrível! Ninguém pode aceitar essas violações. Este relatório nasce de histórias contadas por pessoas que viveram isso e que ficaram traumatizadas. Elas foram muito valentes de sair, de dar a cara, identificar-se e dar seus depoimentos. Também recolhemos muitíssimos depoimentos de maneira confidencial, depoimentos de gente que não queria se arriscar a represálias. Em termos da lei internacional são crimes contra a humanidade que duram muito tempo e que devem ser punidos. Não é um assunto nacional. P. E se a comunidade internacional tomar uma atitude? R. Estamos no auge dos esforços dos últimos dez anos. Os norte-coreanos tomaram uma hábil e bem-sucedida estratégia de negar tudo porque a informação estava fragmentada. Era mais um assunto político que levava a conflitos bilaterais, com o Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos. Nunca foi um problema da comunidade internacional. Este relatório é um compêndio de todas as provas existentes. Essa é a primeira diferença: sair da via política e entrar na via judicial. Pode ser que isso não ocorra cedo. Mas é um início. Se o relatório for aceito no Conselho e aprovado por meio de uma resolução, entraremos em uma nova fase em que a comunidade internacional atuará unida.

As fronteiras de um país bipolar


O Estado ucraniano que surge do desmoronamento e desaparecimento da União Soviética, em 1991, é uma soma de territórios com diferentes biografias históricas e diferentes influências externas, as quais se sobrepõem, se entrelaçam e se dissolvem ao longo dos séculos. O primeiro Estado dos eslavos orientais, a Rus de Kiev, no século IX, está nas raízes culturais e da identidade da Rússia e da Ucrânia, daí a importância que tem Kiev como ponto de referência para os dois países vizinhos, pois foi ali onde o príncipe Vladimir, o Grande, adotou o cristianismo de Bizâncio, no ano 988. Ao longo dos séculos, o território da atual Ucrânia foi cenário dos avanços e retrocessos de diversos conquistadores, como o Estado Polaco-Lituano, a Rússia czarista, o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano. Em suas expansões, esses conquistadores incorporavam a seus domínios povos de lealdades mutáveis, que conservavam, no entanto, suas próprias características e seus próprios interesses. A Ucrânia é a terra dos cossacos, homens guerreiros que serviam a um ou outro invasor, selavam e rompiam alianças, seguindo sempre seus próprios interesses e aspirando à sua própria independência. A tradição cossaca pode ser vista como um dos componentes da identidade ucraniana atual, e seu estudo ajuda a compreender atitudes que se refletem nos processos políticos contemporâneos. Na história da Ucrânia houve várias tentativas de criar Estados, sendo as mais notáveis o Estado cossaco de Bogdan Khmelnitski, que pactuou com o czar da Rússia Alexei Mikhailovich (1654), e, no século XX, os projetos da República Popular da Ucrânia e da Ucrânia Soviética, ambos em 1918. A influência do Império Austro-Húngaro e do império czarista se reflete nos dois mundos culturais que preponderam na Ucrânia de hoje. Em torno da influência austro-húngara predomina a tradição dos uniatos (greco-católicos de rito oriental, que se submetem ao Vaticano), e, no entorno dominado pelo império czarista, a religião ortodoxa. Também os idiomas dividem a Ucrânia. O idioma ucraniano se beneficiou da diversidade aceita nos territórios do Império Austro-Húngaro e foi reprimido pela política czarista. Daí que nos territórios do oeste o idioma ucraniano seja predominante, e no leste seja o russo, embora entre essas duas línguas haja diversas variedades dialetais (ou surzhik) que combinam ambas. O território da Ucrânia (mais de 603.000 quilômetros quadrados) consolidou-se como uma unidade administrativa em época da União Soviética. A Ucrânia foi uma das 15 repúblicas socialistas soviéticas federadas sob a URSS e formalmente era um país com representação na ONU (assim como a República Socialista Soviética da Bielorrússia), voluntariamente integrado à União Soviética. Em virtude do pacto da URSS com a Alemanha nazista no outono europeu de 1939, Stalin incorporou à Ucrânia territórios procedentes do desmoronamento do Império Austro-Húngaro, em 1918, que tinham se tornado parte de países como a Polônia e a Romênia, e também territórios que tinham pertencido ao império czarista. Foi assim como se somaram à Ucrânia os territórios da Galícia oriental, a Bukovina do Norte e Volhyna. O fato é que os dirigentes soviéticos riscavam os mapas conforme o seu desejo, e assim privaram a Ucrânia da Transnístria, para formar o que atualmente é a Moldávia, e também de territórios orientais que agora fazem parte da Rússia. Em 1946, Stalin uniu a Ucrânia à região da Transcarpácia cedida à URSS pela Tchecoslováquia. Em 1954, Nikita Khruschov incorporou-lhe a península da Crimeia, pertencente à Rússia a partir do século XVIII, e, antes, um florescente canato tártaro. Este conglomerado multicultural forma hoje um país de 24 províncias e uma região autônoma (Crimeia), onde o único idioma oficial é o ucraniano, embora existam outras línguas reconhecidas nas regiões, tais como o russo. Na Crimeia, que goza de um status especial, o russo é de fato uma língua co-oficial. Os ucranianos do leste e do oeste sofreram, todos eles, a experiência repressiva soviética. No leste, a fome, ou Golodomor, que causou a morte de milhões de pessoas no começo dos anos trinta, e, no oeste, as deportações para a Sibéria que se seguiram à anexação soviética, em 1939, e depois da Segunda Guerra Mundial. Entre as duas Ucrânias é possível encontrar denominadores comuns, e, em épocas de paz e prosperidade, ambas as partes tendem a se aproximar. Mais do que isso, as duas Ucrânias gostariam de ter um governo democrático, acima das diferenças culturais. Entretanto, quando os fios se tensionam e são expostos os conflitos de lealdades, todos e cada um dos ucranianos tende para as suas referências tradicionais, seja na Europa ou na Rússia.

“Colonialismo tributário” brasileiro subsidia passagens aéreas para o exterior


Nunca os brasileiros gastaram tanto no exterior como no ano passado. Foram desembolsados 25,3 bilhões de dólares, quase 15% a mais que em 2012. A renda e o emprego ajudam a explicar esse fenômeno. Mas também os preços mais atraentes de produtos e serviços fora do país, e que fazem com que a Flórida, nos Estados Unidos, siga entre os destinos mais procurados, mesmo com a alta recente do dólar. Essa disparidade nos valores já começa, inclusive, na hora de comprar as passagens aéreas, graças a uma carga tributária regional e única no Brasil que acaba subsidiando os voos internacionais. Trata-se de um “colonialismo tributário”. A expressão foi cunhada pelo próprio ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência, Moreira Franco. Em entrevista por telefone ao EL PAÍS, ele afirma que o alto custo do turismo interno, que passa substancialmente pelo setor aéreo, faz com que o Brasil acabe subsidiando a transferência de recursos para o exterior. “É uma postura colonial para a transferência de renda para a metrópole. Nós temos infelizmente uma estrutura tributária que penaliza muito os negócios e, sobretudo, o contribuinte”, completa. O alvo principal do ministro é a taxação do maior insumo do setor aéreo, o querosene de aviação (QVA). Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o combustível responde por cerca de 40% dos custos de uma companhia no país, ficando entre os mais caros do mundo. Sobre ele incidem tributos federais, como o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), e estaduais, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “Essa tributação regional é única no mundo”, afirma o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz. “O ICMS não pode ser cobrado para voos internacionais porque isso está definido em acordos comerciais dos quais o Brasil é signatário. As taxas federais existem em outros países e não violam conceitos de reciprocidade que permeiam esses tratados. Já as estaduais, como não existem no exterior, não podem incidir sobre voos internacionais no país”, explica. Ainda de acordo com a Abear, o ICMS sobre o combustível varia de 4% a 25% nos principais aeroportos brasileiros. Esses 4% seriam cobrados em voos dentro do mesmo estado, e em quatro ou cinco deles apenas. Entre estados diferentes, essa variação fica entre 12% e 25%. Como resultado das diferentes alíquotas, é prática comum nas empresas planejar a malha para abastecer no ponto de menor ICMS. “Se você somar, no final do dia, os pagamentos de tributos, o custo derivado de enquadramentos regulatórios, o preço do QAV em si e um déficit em infraestrutura, a aviação doméstica brasileira acaba saindo 27% mais cara que na Europa”, acrescenta Sanovicz. “Enfrentar essa questão é vital para a economia, para o ingresso de divisas e para movimentar centros mais afastados do eixo Sudeste, como Natal e Belém, entre outras cidades”, emenda. No Estado de São Paulo, por exemplo, o ICMS cobrado é de 25%, ou seja, um quarto do metro cúbico do QAV. Quase 40% do tráfego nacional passa pelos aeroportos paulistas, com destaque para dois dos que apresentam maior movimentação de passageiros no Brasil, Congonhas e Guarulhos. Na prática, basta imaginar um mesmo caminhão-tanque abastecendo dois aviões de uma mesma companhia na pista, um com destino a Recife e outro a Buenos Aires. O combustível é o mesmo, mas o preço dele para o voo doméstico sai mais caro, em uma diferença que acaba repassada no preço das tarifas dos usuários. Uma simples busca em um site que relaciona os preços mais vantajosos na internet pode evidenciar essa disparidade no exemplo citado por Moreira Franco. Uma viagem direta de um adulto de São Paulo a Recife, distantes pouco mais de 2.000 quilômetros em linha reta, é estimada entre 753 reais (770 dólares) e 818 reais (961 dólares) nas duas principais companhias aéreas do país, Gol e TAM. O período pesquisado para a ida foi 1o de agosto deste ano, com retorno previsto para uma semana depois, no dia 8. Nas mesmas condições de busca, ida e volta para Buenos Aires, distante 1.677 quilômetros da capital paulista, sai entre 609 reais (256 dólares) e 625,7 reais (263 dólares). “É por isso que se diz brincando que a classe média brasileira vai para Miami nas férias, enquanto a classe média alta vai para a Europa e os ricos brasileiros seguem para o Nordeste. É uma coisa bárbara, o imposto é muito alto. Não é à toa que o (presidente) Obama, durante a sua campanha à reeleição, fez questão de anunciar medidas que facilitassem a entrada de brasileiros nos Estados Unidos”, acrescenta o ministro Moreira Franco. Mesmo tendo a maior parte de seu volume produzido no Brasil, o QAV é precificado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) levando em conta parâmetros do mercado internacional, a fim de manter o seu custo compatível com outras alternativas de importação no setor. Segundo representantes das companhias aéreas, essa lógica está ultrapassada e remonta à década de 1980, quando a maior parte não era produzida aqui, e sim comprada do exterior. De 2002 a 2012, o presidente da Abear estima que houve aumento de 30 para 100 milhões de passageiros por ano no Brasil. O preço médio das passagens, por sua vez, caiu de 500 reais (210 dólares, na cotação desta quinta-feira) para 270 reais (113,4 dólares) no mesmo período. O crescimento no fluxo de viajantes pode ajudar a diluir o impacto das tarifas. “Mas o setor poderia ser muito mais competitivo”, rebate Sanovicz. A “exportação” de turistas para o exterior contribui para elevar o déficit do Brasil nas contas externas, além de estimular o comércio e os serviços apenas em outros países. Segundo o Banco Central brasileiro, mesmo com o aumento do fluxo de turistas previsto para a Copa do Mundo, as despesas dos brasileiros fora do país vão superar novamente os gastos dos estrangeiros no país neste ano. Em 2013, esse déficit ficou em 18,6 bilhões de dólares, também um novo recorde.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dilma discursa na abertura da Festa da Uva 2014

Na abertura da Festa da Uva, em Caxias do Sul, nesta quinta-feira (20), a presidenta Dilma Rousseff afirmou ser parceira da produção agrícola da região. Dilma reafirmou o compromisso do governo com os produtores de uva e vinho brasileiros e elogiou Caxias do Sul e a Serra Gaúcha como referência na produção de vinhos e sucos, que, segundo ela, vem ganhando qualidade e reconhecimento dentro e fora do país. Dilma destacou ainda a publicação, no Diário Oficial de hoje, do novo preço mínimo de R$ 0,63 por quilo de uva, que irá vigorar ao longo deste ano e que, conforme acordado com o setor, é 10% superior ao vigente até agora. “Faço questão de repetir o que disse em 2012, quando estive aqui, nessa mesma festa: vocês têm uma presidenta parceira da produção agrícola desta região (…) Esta tem sido nossa prática: aprimorar, a cada safra, os instrumentos de apoio à produção agropecuária brasileira e à sua comercialização. Nossa tarefa, que cumpriremos com zelo, é oferecer aos dedicados e competentes agricultores de nosso país o apoio que precisam para continuar batendo recordes de produção, e garantindo o abastecimento e a segurança alimentar de nossa população”.

Thais Bianca Rosa de Ouro


Menina de três anos tem QI tão alto quanto Einstein

Alexis sabe decorou todas as capitais do mundo e sabe a localização exata de cada uma (Foto: Reprodução/ABC)
Uma garotinha de apenas três anos tem um QI de gênio. Alexis Martin aprendeu a ler com dois anos e ensina espanhol aos pais usando um iPad. Ela também decorou todas as capitais do mundo e a localização exata de cada uma no mapa. Os médicos constataram que a menina tem um QI tão avançado que não foram capazes de calcular o número exato. Eles estimam, porém, que o QI dela pode chegar a 160 – a mesma pontuação que Albert Einstein e do cientista Stephen Hawking. A média das pessoas comuns é de 100 pontos. Alexi vive com a família na cidade de Phoenix, no estado americano do Arizona. De acordo com Ian Martin, pai da garota, a menina possui uma memória excepcional. A família começou a perceber que havia algo especial quando ela começou a recitar histórias de ninar entre os 12 e 18 meses de idade. “Estávamos dirigindo por aí no carro e ela recitava sua história para dormir na noite anterior", disse Martin à emissora ABC. Os pais ainda não definiram em qual tipo de escola irão matricular a garota e pensam agora na melhor maneira de educá-la. Os médicos acreditam, porém, que seja melhor que ela não frequente uma escola normal. “Crianças brilhantes são muito ansiosas e é melhor que ela esteja cercada por crianças com o mesmo potencial”, comentou o pai de Alexis. A garota já é membro da Mensa, uma organização exclusiva para pessoas com QI alto e que reúne apenas 2% da população. Alexis é a mais jovem integrante da organização.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A vida escura dos homens que iluminam o México


“Estão todos mortos”. Havia passado uma semana desde que a Mina 8 de Pasta de Conchos, no Estado de Coahuila, no norte do México, engolira 65 mineiros em 19 de fevereiro de 2006. María Trinidad Cantú, de 62 anos, ouviu aquelas palavras de um porta-voz do Grupo México, empresa proprietária, depois de vários dias plantada na boca da mina. Perdeu a esperança de ver seu filho, Raúl Villasana, de 32 anos, sair daquele lugar com vida, mas não foi embora. Junto com outras famílias, ela passou um ano indo e vindo todos os dias para esperar um corpo para velar e um túmulo onde poder depositar flores. O resgate só conseguiu devolver dois corpos. Quatorze meses após o desastre, outro porta-voz se pronunciou. Cantú lembra suas palavras: “Pulem, saltem, subam à chaminé, mas aqui já não há mais resgate”. Em 2007, a mina se tornou uma vala comum. A reserva de carvão de Sabinas, onde repousam os mortos de Pasta de Conchos, é responsável por cerca de 90% da produção carbonífera nacional anual no México. Uma espécie de deserto onde o frio corta a respiração no inverno e o calor pesa no verão. Um lugar regado de pequenas e humildes casas, estradas cheias de buracos, um Oxxo (loja 24 horas) de vez em quando, colunas de fumaça e muitas minas. Pequenos poços já abandonados, grandes buracos negros a céu aberto e novas cavernas em construção em qualquer lugar. “Aqui não tem mais”, fala de dentro de uma das cavernas Mario Castro, de 67 anos e com quatro décadas de experiência em minas. Essa sensação de estar predestinado contagia tudo com certa ausência de vida. Ruas vazias, silêncio, alguns destroços, em resumo: pobreza em uma das áreas mais ricas do país. Alguns por aqui dizem que se trata de piada quase macabra, mas algumas placas oficiais dão as boas-vindas aos visitantes que decidiram explorar esta região entre as cidades de Monclova e Piedras Negras com a mensagem: “Turismo do carvão”. Entardece na região e uma estrada de pedras leva o visitante até a frente de uma mina, a cinco minutos de carro do centro da cidade de Barroterán. Os passos levantam um pó preto que se aloja imediatamente no nariz e sob as unhas. Cerca de seis homens aquecem as mãos com o calor de brasas. Está muito frio. São os “listrados”, aqueles que não descem à mina para extrair carvão, mas esperam no lado de fora para esvaziar os vagões que saem repletos de um buraco ao fundo. Castro está com eles. Faz tempo que não desce, ele já “arrancou” carvão por muitos anos. Mas o dinheiro está lá, escondido em um buraco de 400 metros de comprimento sem saídas e uma altura não superior a 1,5 metro. Às oito horas da noite cerca de 40 homens trabalham lá dentro. Um funcionário da empresa de mineração, conhecido como o “mordomo”, mostra quantas toneladas cada um retira. Eles recebem 15 reais por mil quilos, enquanto que a Comissão Federal de Eletricidade compra por cerca de 160 reais. “Se você não arranca [carvão], não pagam. Se houver um acidente, não pagam”, diz o mineiro Juan Francisco Ortiz, de 37 anos. Um trabalhador pode obter em um dia por volta de cinco toneladas. Muitas minas na região, algumas ilegais, operam sem medidas de segurança. “Ninguém sabe quantos são, crescem como capim”, diz Cristina Auerbach, que luta há oito anos pela melhoria das condições de vida dos mineiros. Os acidentes se sobrepõem uns aos outros, como os mortos. Desde o acidente de Pasta de Conchos, 105 mineiros morreram na área, de acordo com a contagem feita pela associação Famílias de Pasta de Conchos. Também há dezenas de inválidos. Nenhum empresário nunca foi preso. A maioria dos trabalhadores que sofrem um acidente é descredenciada da previdência social no mesmo dia e não recebe indenização. A propriedade desses buracos ou cavernas é um mistério. Há grandes empresas que subcontratam empresas locais. O sigilo é absoluto. Um encarregado de um poço preferiu manter em segredo o nome da empresa, apesar de perder três de seus filhos em um acidente. O delegado da Secretaria de Trabalho em Coahuila, Heriberto Fuentes, disse por telefone que a inspeção nas minas é diária e que somente no ano passado “foi suspenso o trabalho em 24 por não terem medidas de segurança necessárias”. A proliferação é tão grande que é difícil controlar. De um lado da estrada, em Barroterán mesmo, é possível ver seis novas cavernas semiescavadas, conhecidas como minas de arrasto. Uma estrutura de madeira funciona como único suporte. La Florida é uma dessas cavernas. Homens seminus pela umidade e o calor trabalham em turnos de oito horas sem dar as caras. Dizem que no sábado houve um deslizamento “em uma ali do lado”. Felizmente ninguém morreu. “Na minha mina 163 morreram em 1969, mas não foi no meu turno. É o que há, mas com a benção de Deus tudo vai bem”, diz Castro. “Quando você tem uma família, você tem que descer, o dinheiro está lá, eu já me salvei várias vezes”, acrescentou Ortiz apontando a mina, “por isso chamo a atenção dos filhos quando não vão bem na escola, não quero que acabem como um...”. Com 15 anos, César Avilés, natural de Barroterán, começou a trabalhar em um poço (minas a céu aberto). Ele regava a terra e colocava explosivos. Recebia 35 reais por dia que gastava para ir jantar com sua namorada, até que o dispensaram. Agora ele voltou à escola. “Já tenho outros pensamentos, quero estudar comércio internacional e fazer uma licenciatura”, conta. Encontrar alternativas é um dos desafios nesta área, na qual o pó preto do carvão desliza por debaixo das portas e mancha as mãos dos homens para sempre. Rosalío Ayala trabalhava há 25 anos na mina quando um acidente o deixou sem uma perna em março de 2012. Ele não estava formalmente contratado, de modo que nunca foi indenizado. Tampouco começou a receber pensão por invalidez. Nesta manhã de sexta-feira ele caminha com sua bengala em uma estufa. Junto com outros ex-mineiros acidentados, Ayala monitora pés de pimenta plantados no ano passado. A primeira colheita rendeu 200 quilos, que venderam em sacolinhas de 1,80 real na região. Agora já pensam em plantar cactos. A ativista Cristina conseguiu um financiamento para que pudessem começar. É um início. Longe da pimenta, os subsolos das reservas de carvão continuam em atividade. Os 365 dias do ano, as 24 horas do dia. Com respeito, mas sem medo. “A morte anda com todos, não apenas com os mineiros”, disse Castro. Tão longe de tudo, os homens que com suas mãos arrancam o carvão que iluminam o México trabalham, e morrem. “Que nos entreguem mortos” Há oito anos, em uma madrugada como esta de quarta-feira, explodiu a Mina 8 de Pasta de Conchos, no Estado de Coahuila, no norte do México, de propriedade do Grupo México. Oito mineiros conseguiram sair andando, mas outros 65 trabalhadores ficaram para trás. As famílias esperaram sobre a mina por um resgate que nunca veio, nem para os vivos, nem para os mortos. Depois de pouco mais de um ano de trabalho para remover os cadáveres, a empresa decidiu abandonar o resgate e fechar a mina. Apenas dois corpos foram recuperados. As famílias tiveram de ser tiradas à força por tropas de segurança porque se negavam a abandonar seus entes que ficaram soterrados. O Grupo México, que não respondeu às perguntas deste jornal, deu 136 mil reais a cada uma das viúvas e encerrou o caso. “Um acidente”. Como muitos que ocorrem nesta área. Mas a luta tinha apenas começado. Um grupo de pais e mães se reuniu na associação Famílias de Pasta de Conchos para empreender um caminho incansável que pretende obrigar a empresa, ou na sua falta as autoridades, a fazer um resgate que já leva oito anos. Dizem na bacia carbonífera de Sabinas, a mais importante do país, que os 33 mineiros chilenos que sobreviveram 69 dias soterrados em 2010 falavam à época: “que não nos façam o que fizeram em Pasta de Conchos”. Nesta área desértica, cuja única fonte de renda é o carvão e a metalurgia, o resgate chileno ficou muito marcado nas pessoas. A pergunta entre as famílias se repete e continua doendo: “Queria saber como foi isso. Talvez eles terminaram logo para não sofrer muitos dias... Sim, agora estão mortos, mas que nos entreguem”, disse María Trinidad Cantú, a mãe do mineiro Raúl, de 32 anos, cujo corpo continua na mina. A empresa apresentou um relatório em 2007 no qual alegou que o resgate era muito perigoso. “A água contaminou toda a área da mina (...) explorar e reabilitar esta área expõem os empregados da mina a agentes infecciosos (...) Dependendo da saúde das vítimas, as equipes de resgate podem estar expostas a infecções crônicas, incluindo hepatite, HIV, tuberculose e outros patógenos entéricos. Pode representar graves riscos à saúde, não só ao pessoal da mina, mas às suas famílias ou em últimos casos, à comunidade inteira”, diz o documento visto pelo EL PAÍS. A organização acredita que a empresa quis encerrar o caso porque o resgate custava muito dinheiro, e entrar na mina poderia evidenciar que as medidas de segurança não eram cumpridas, como a construção parcial de uma chaminé de ventilação ou a falta de uma linha de emergência no interior da mina que guiaria os mineiros à saída caso ficassem no escuro. Em 2011, as famílias levaram o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que aceitou o caso, mas ainda não se pronunciou. Até então, os políticos nunca haviam se interessado pelo tema. Nem o governo do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006), nem a gestão Felipe Calderón (2006-2012), do PAN. Mas com o caso no tribunal sediado em Washington, o atual governo de Enrique Peña Nieto comprometeu-se a avaliar um possível resgate. O secretário do Trabalho, Alfonso Navarrete Prida, disse na semana passada que seu departamento havia solicitado há um ano à Procuradoria Geral da República (PGR) uma perícia para saber se seria possível entrar com segurança na mina. “A empresa [Grupo México] apresentou muitos recursos legais... A questão está agora nas mãos dos juízes. O nosso objetivo é fazer a perícia e o da empresa é de que isso não aconteça”, disse Navarrete. De Barroterán, na área de mineração, a ativista Cristina Auerbach acredita que o governo vai acabar fazendo o resgate: “E pela primeira vez vai ter que punir alguém por matar mineiros, o que até agora sempre saiu grátis”.

Balas contra a imprensa


O Brasil já enterrou mais jornalistas que a Síria neste começo de ano. Hoje é o país mais perigoso para a profissão do continente, após superar o México. E o quinto mais mortífero do mundo, depois do assassinato de 11 jornalistas em 2012, cinco deles diretamente relacionados com o exercício da profissão. Os dados do último relatório da ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) evidenciam um Brasil do progresso que tem avançado pouco na defesa da liberdade e pluralidade da informação. Enquanto os telejornais nacionais dedicam mais de 15 minutos à cobertura da morte do cinegrafista Santiago Andrade durante um protesto no Rio, o falecimento de mais dois repórteres nas últimas semanas é relegado a pequenas colunas dos jornais nacionais e à imprensa local. Há uma semana, Pedro Palma, de 47 anos, dono e único repórter do jornal semanal Panorama Regional, foi morto com três tiros em Miguel Pereira, no interior de Rio de Janeiro. Ele denunciava casos de corrupção e a falta de repasse de dinheiro público, envolvendo principalmente o prefeito e a primeira-dama e secretária de Desenvolvimento Social, Kátia Kozlowski. No dia 12 de fevereiro dois indivíduos atiraram contra ele na porta de sua casa. A polícia descartou que se tratasse de um assalto. José Lacerda da Silva, 50 anos, cinegrafista no canal regional TV Cabo Mossoró, do Rio Grande do Norte, também foi morto este mês. Os motivos que levaram ao seu assassinato no caminho para o supermercado ainda não foram confirmados e suspeita-se que não tenham relação com o exercício do jornalismo, mas continua sendo parte das estatísticas. O mais recente relatório da RSF dedica um amplo espaço para analisar o perigo que enfrentam os jornalistas no Brasil. O informe menciona o “coronelismo” como o “verdadeiro gargalo no pluralismo e na independência da imprensa”. O jornalismo torna-se instrumento dos barões locais, à mercê dos ajustes de contas políticas e que em algumas ocasiões são mortais, disse a ONG. No entanto, os últimos assassinatos no Rio e a violência nas manifestações contra os profissionais da informação (mais de cem jornalistas ficaram feridos desde junho de 2013) fizeram cambalear a tese defendida no relatório de RSF, focado na denúncia da extrema vulnerabilidade dos jornalistas do interior do país, no que diz respeito ao exercício da profissão nas grandes capitais. “Continuamos afirmando que é muito perigoso para os jornalistas que trabalham no interior, pelo coronelismo ou a corrupção, mas os acontecimentos recentes demonstram que não é certo que a capital é mais segura, vide assassinato do jornalista no Rio e a segurança dos jornalistas durante as manifestações, que é outro tipo de perigo que aumentou nas grandes cidades”, esclarece Camile Soulier, responsável da ONG nas Américas. Lúcio Flávio Pinto, jornalista em Belém, no Pará, norte do país, sofre intimidações desde 1992, quando começou a publicar reportagens sobre a crise da imprensa, que no caso de Belém é dominada pelo conglomerado de comunicação da família Maiorana. “Tive 33 processos, sendo que 19 foram propostos pela família Maiorana. Eu já fui agredido três vezes e ameaçado de morte durante o governo de Jader Barbalho (1983-94)”, conta o jornalista. Pinto responde na Justiça por reportagens publicadas no Jornal Pessoal, um veículo quinzenal independente, sem publicidade que vende 2.000 exemplares a cinco reais cada. “É uma democracia rarefeita. O que salta aos olhos é que a justiça está saindo da imparcialidade para tomar partido contra a liberdade de imprensa. Antes, a ponderação era do interesse coletivo sobre o direito à privacidade, esse era o elemento para definir os conflitos”, se indigna Pinto, que conta com uma rede de leitores e amigos que o apoiam nesses litígios. Mas, escrever para um dos grandes veículos do pais tampouco é garantia de segurança. O caso do repórter André Caramante, da Folha de S. Paulo, mostra que qualquer um é vulnerável. Após 15 anos cobrindo segurança pública em São Paulo, nos quais denunciou vários casos de corrupção e grupos de extermínio dentro da polícia, Caramante começou a receber ameaças mais graves após a publicação em julho de 2012 de uma matéria sobre o coronel Telhada, eleito vereador pelo PSDB em São Paulo, em outubro daquele ano. A denúncia o obrigou a sair do Brasil para proteger sua família. Em dezembro do ano passado, de volta ao país, mas afastado das suas responsabilidades anteriores no jornal, Caramante recebeu o prêmio de Direitos Humanos das mãos da presidente Dilma Rousseff. Hoje, porém, procura emprego porque a Folha o demitiu alegando corte de gastos. Crimes sem culpados A impunidade dos crimes, em um país onde 80% dos homicídios são arquivados sem culpados, depende da pressão social exercida pela própria imprensa. Quanto mais visibilidade, mais rápido os culpados são presos. Um exemplo é o de dois jovens responsáveis pela morte do cinegrafista Andrade, que foram presos em tempo recorde. A publicidade marcou também a resolução da morte do jornalista Tim Lopes, torturado e morto por narcotraficantes no Rio em 2002. Outros casos menos divulgados seguem outro ritmo. O assassino de Décio Sá, jornalista e blogueiro do jornal Estado do Maranhão, morto a tiros em um restaurante em 2012, acaba de ser condenado a 23 anos de cadeia. O caso de Luis Carlos Barbon, assassinado por policiais militares em Porto Ferreira, a 228 quilômetros de São Paulo em 2007, demorou ainda mais para ser resolvido. Cinco anos para condenar a 16 anos de prisão os três policiais acusados. Apesar de a maioria dos responsáveis por assassinatos em casos mais recentes terem sido presos, o Comitee to Protect Journalist (CPJ) afirma em seu site que das 27 mortes de jornalistas –todos homens- registradas desde 1992 no Brasil, 73% delas ficou completamente impune. Ao mesmo tempo, conforme a denúncia da RFS, as ordens de censura a mídias de comunicação e jornalistas saturam os tribunais, atendendo a petições de políticos que se aproveitam de una justiça complacente. Contagem de mortes Algumas entidades acompanham em nível global os ataques a jornalistas, entre elas a IFEX, Intercâmbio Internacional de Liberdade de Expressão, o Comitê de Proteção ao Jornalista (CPJ) e a ONG Repórter Sem Fronteiras (RSF). Apesar de todas concordarem que apenas os jornalistas que foram assassinados em detrimento do exercício da profissão devem ser contabilizados, os números não são muito rigorosos. José Roberto de Toledo, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), conta que a apuração é feita, mas que nem sempre conseguem concluir se o homicídio foi provocado pelo trabalho da vítima. “Acompanhamos os casos, tentamos fazer uma investigação, falar com o delegado e fontes. Mas o país é violento, são 50.000 assassinatos por ano, é de se esperar, estatisticamente, que jornalistas estejam entre estes, mas você nunca tem certeza das circunstâncias”, explica Toledo. No ano passado, enquanto o RSF considera que cinco profissionais morreram, a CPJ conta apenas três. Dois deles ocorreram na mesma cidade do Vale do Aço, em Ipatinga, no interior de Minas Gerais, em abril de 2013. Tratava-se de um repórter, Rodrigo Neto, e o fotógrafo Walgney Assis Carvalho, que estavam investigando chacinas de policiais. O juiz do caso recentemente negou um habeas corpus a um dos policiais envolvidos no assassinato da dupla. O terceiro foi em Jaguaribe, no Ceará. Mafaldo Bezerra Goes trabalhava na rádio FM Rio Jaguaribe e sua morte foi ‘encomendada’ pelo chefe de uma quadrilha que Goes denunciou em seu programa. “Quando fazemos um levantamento dos casos de homicídios vemos que existe uma constante: a polícia geralmente chega aos que fizeram o crime, mas não aos mandantes”, lamenta Toledo.