O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. / ARNE DEDERT (EFE)
Dois disparos secos para começar. O Banco Central Europeo (BCE) acaba de baixar as taxas de juros oficiais de 0,25% para 0,15% — a mais baixa em seus 15 anos de existência — e se converteu no primeiro dos grandes bancos centrais do mundo a impor uma taxa negativa (de 0,10%) aos depósitos que os bancos mantêm em Frankfurt: o equivalente a um imposto aos bancos que deixam o dinheiro debaixo do colchão em vez de colocá-lo para circular. Só Dinamarca e Suécia tinham feito algo parecido no passado.
Depois do anúncio das taxas, o presidente do BCE, Mario Draghi, apresentou-se para explicar mais medidas contra o risco de deflação na zona do euro. Haverá uma grande injeção de liquidez de 400 bilhões de euros (1,23 trilhão de reais) destinados a créditos à economia real e que não poderão ser usados nem para hipotecas, nem empréstimos ao setor público. Além disso, Draghi anunciou o final da drenagem de liquidez para compensar as compras de bônus soberanos e preparativos para a compra de ativos. Os efeitos não demoraram: o euro caiu assim que ficaram conhecidas as medidas do BCE e as Bolsas comemoraram a notícia
Todos os olhos estavam voltados para o BCE porque esperava-se que Draghi fosse apertar o gatilho em sua conferência de imprensa com outras medidas de maior profundidade, além das taxas, destinadas a fomentar o crédito a médio prazo e, no curto, a debilitar o euro. E foi o que aconteceu: haverá a liberação de liquidez na ordem de 400 bilhões de euros, com vínculos que obrigam os bancos que usem este dinheiro a emprestá-lo para a economia real, sem que possa ser usado para créditos hipotecários, nem empréstimos ao setor público, como especificou o presidente do BCE. Serão injeções de liquidez, que devem ser devolvidas em setembro de 2018, e os bancos poderão pedir até três vezes o dinheiro destinado a empréstimos a particulares e empresas. Também serão tomadas outras medidas de liquidez, como o final da drenagem de liquidez para compensar as compras de bônus soberanos, pois o excesso de dinheiro foi sendo reduzido nos últimos meses até níveis perigosos. E o BCE iniciou os preparativos para a compra de títulos respaldados por ativos, as compras de ativos a grande escala (quantitative easing, no jargão inglês característico dos banqueiros centrais). O banco central abandona assim oito longos meses de inatividade nos quais a inflação caiu até a zona de risco – com o IPC em 0,5%, muito distante do objetivo de 2%, e riscos de maiores quedas – com uma recuperação diabolicamente lenta – o PIB da eurozona cresceu 0,2% no primeiro trimestre – com alto número de desempregados e, enfim, com baixas expectativas de sair desse túnel enquanto o crédito estiver caindo e continue asfixiando milhares de empresas viáveis. Existe, nos últimos cinco anos, uma grande variedade de sintagmas que contêm o adjetivo "histórico" vinculado às decisões do BCE. Mas é certo que os cortes de taxas desta quinta-feira (tando o do preço oficial do dinheiro, quanto o da taxa de depósitos) são, mais uma vez, "históricos". As taxas negativas levam o BCE por águas desconhecidas. Mas terão poucos efeitos reais: são mais um sinal, um símbolo de que o Eurobanco pode ser mais uma ferramenta efetiva, com as taxas de juros (a medida do medo em uma economia) muito perto da zona zero pela primeira vez em muito tempo. Hoje era um dia chave para o todo-poderoso Mario Draghi, que junto à chanceler Angela Merkel aparece como o principal gestor da crise do euro e que deve satisfazer as enormes expectativas nos mercados de divisas, de renda variável, dívida pública e de quase todo o resto. A caixa de ferramentas do BCE é conhecida e as medidas fundamentais estão descontadas, por isso boa parte de seu impacto depende da linguagem utilizada pelo chefe do BCE, um autêntico mestre das intervenções de política monetária verbais. Uma crise que, frente à enésima rodada de medidas excepcionais, inéditas, extraordinárias e "históricas", ainda está muito distante de terminar. Apesar do otimismo profissional em Bruxelas, em algumas capitais e, de vez em quando, mesmo em Frankfurt.
Fonte:el pais
Todos os olhos estavam voltados para o BCE porque esperava-se que Draghi fosse apertar o gatilho em sua conferência de imprensa com outras medidas de maior profundidade, além das taxas, destinadas a fomentar o crédito a médio prazo e, no curto, a debilitar o euro. E foi o que aconteceu: haverá a liberação de liquidez na ordem de 400 bilhões de euros, com vínculos que obrigam os bancos que usem este dinheiro a emprestá-lo para a economia real, sem que possa ser usado para créditos hipotecários, nem empréstimos ao setor público, como especificou o presidente do BCE. Serão injeções de liquidez, que devem ser devolvidas em setembro de 2018, e os bancos poderão pedir até três vezes o dinheiro destinado a empréstimos a particulares e empresas. Também serão tomadas outras medidas de liquidez, como o final da drenagem de liquidez para compensar as compras de bônus soberanos, pois o excesso de dinheiro foi sendo reduzido nos últimos meses até níveis perigosos. E o BCE iniciou os preparativos para a compra de títulos respaldados por ativos, as compras de ativos a grande escala (quantitative easing, no jargão inglês característico dos banqueiros centrais). O banco central abandona assim oito longos meses de inatividade nos quais a inflação caiu até a zona de risco – com o IPC em 0,5%, muito distante do objetivo de 2%, e riscos de maiores quedas – com uma recuperação diabolicamente lenta – o PIB da eurozona cresceu 0,2% no primeiro trimestre – com alto número de desempregados e, enfim, com baixas expectativas de sair desse túnel enquanto o crédito estiver caindo e continue asfixiando milhares de empresas viáveis. Existe, nos últimos cinco anos, uma grande variedade de sintagmas que contêm o adjetivo "histórico" vinculado às decisões do BCE. Mas é certo que os cortes de taxas desta quinta-feira (tando o do preço oficial do dinheiro, quanto o da taxa de depósitos) são, mais uma vez, "históricos". As taxas negativas levam o BCE por águas desconhecidas. Mas terão poucos efeitos reais: são mais um sinal, um símbolo de que o Eurobanco pode ser mais uma ferramenta efetiva, com as taxas de juros (a medida do medo em uma economia) muito perto da zona zero pela primeira vez em muito tempo. Hoje era um dia chave para o todo-poderoso Mario Draghi, que junto à chanceler Angela Merkel aparece como o principal gestor da crise do euro e que deve satisfazer as enormes expectativas nos mercados de divisas, de renda variável, dívida pública e de quase todo o resto. A caixa de ferramentas do BCE é conhecida e as medidas fundamentais estão descontadas, por isso boa parte de seu impacto depende da linguagem utilizada pelo chefe do BCE, um autêntico mestre das intervenções de política monetária verbais. Uma crise que, frente à enésima rodada de medidas excepcionais, inéditas, extraordinárias e "históricas", ainda está muito distante de terminar. Apesar do otimismo profissional em Bruxelas, em algumas capitais e, de vez em quando, mesmo em Frankfurt.
Fonte:el pais
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